Minhas verdades através dos livros
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Sinopse – Versilêncios – Gerusa Leal

 

“A poesia de Gerusa Leal constrói-se nessa contradição, ou melhor, nesse paradoxo necessário do signo feito presença, da relação feita substância, do infinito se fechando nele mesmo para deixar-se apreender. A poetisa encontra o objeto da sua escritura no fundo desse invisível metafísico “materializado” pelo “abismo” no qual com efeito cresce “a flor de gelo” – esse objeto poético que parece ser a própria metáfora da poesia. O seu lirismo tem a particularidade de não ser somente a expressão de um Eu, mas também, e sobretudo, a elucidação do enigma do Eu. Seria algo como um lirismo objetivo, uma postura pela qual a poetisa toma a sua própria consciência como objeto, e ao mesmo tempo tenta se reapropriar dela: busca impossível, pois o objeto poético último é uma flor de gelo, uma flor mineralizada, desvitalizada. O poema perfeito é a morte.”
Texto de Stéphane Chao.
A primeira parceria  deste blog foi com Gerusa Leal que, gentilmente enviou-nos um exemplar de Versilêncios juntamente com outros dois exemplares de sua obra que serão objeto de futuras críticas literárias de Verdades de um ser.

 

 Acaso soubesse eu a preciosidade que receberia, pedido feito sequer teria. Não estamos falando de um livro de poesia qualquer. Versilêncios é, sem nenhum favor, um dos melhores livros do gênero no Brasil. Não sou um expert em poesia mas, já li muitos livros com esta linguagem. Muitos de Vinícius, alguns de Drummond, de João Cabral de Melo Neto, Mário Quintana, Castro Alves; muitos de Cecília Meireles. Alguns poucos de Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Augusto dos Anjos. Não recordo de ter ficado tão maravilhado ao concluir uma dessas leituras como fiquei ao finalizar Versilêncios.
Obra lançada pela Editora Bagaço em 25 de março de 2008, só não fez mais sucesso em virtude da falta de costume do nosso povo de ler e, menos ainda, poesia.Não seja talvez a causa, a falta de costume do brasileiro de ler poesia e sim, o que muitos falam por aí, de nossas editoras não investirem em divulgação das obras realmente de valor de nossa literatura.
Gerusa Leal, em breve a ser entrevistada neste blog, é uma poetisa com vários prêmios conquistados. Dentre os principais, excetuando os que não foram para poesias, citamos a premiação do concurso da festa literária de Porto em 2005 para o poema “Momento”, prêmio Edmir Domingues de Poesia de 2007 para esta obra, concedido pela Academia Pernambucana de Letras,

Nas palavras de Stéphane Chao, num texto-análise da obra poética de Gerusa, “a figura do “espelho” não é apenas uma estrutura presente nos poemas de Gerusa Leal, é a temática central: ela sintetiza dos valores da circularidade além de remeter à idéia de condensação, característica do cristal, de verificação do Eu, como meio de suspender o movimento de fuga de si para si mesmo.”

Não poderia deixar também de citar Bentancur, no seu blog onde assim se expressa a respeito desta fantástica produção artística: “A poética de Versilêncios é construção rigorosa, com versos esculpidos, talhados, não tivesse, pela força do ritmo, uma fluência cuja harmonia atinge em cheio sua cadência nunca dura, nunca seca, mas, sim, quase sussurrada e, desta forma, buscando lírica rara: a marcar exatamente porque escolheu entremostrar-se e não o contrário, que é exibir-se com os excessos comuns de uma poesia que não passa de prosa ritmada ao extremo.” (disponível em http://bentancur.blogspot.com.br/2009/10/alem-e-aquem-do-verso-versilencios-de.html acessado em 16/jan/2014).

Impossível também não aludir, aos versos de Paulo Salles, nos comentários do mesmo blog acima referido. Diz Paulo, que aqui, por respeito,  corrijo (sem ao menos apontar):

Olá, Betancurt

Acessei o seu link por indicação da minha amiga e poeta Gerusa Leal, para ver os comentários sobre “Versilêncios”, que foi lançado um pouco antes do lançamento do meu terceiro livro de poesias “Horas Verdes”. A maneira que encontrei para homenagear Gerusa, foi através do poema que ora envio a vc.”
“(DI)VERSIFICANDO

Para a poetisa Gerusa Leal, autora de “Versilêncios’, Prêmio Edmir Domingues da APL em 2007.

mergulhei novamente nos teus versos.
quem sabe pudesse colher a flor de gelo
ou encontrasse algum resto de carpintaria
que pudesse ser objeto de reconstrução

escravo também sou da mesma senhora
e quero ver a poesia nas coisas simples
seja em um encontro familiar
ou segredos de alcova

nasci e também preciso caminhar
com nuvens, chuvisco de azul, fumaça…
não importa
e se viver não é profissão
poesia então…

quero ser, mesmo que intruso, parte dessa tua nau
que singra os mares de Holanda a Olinda
mesmo sem nome e sem falar de amor
só não quero ser barco sem rumo
ou escravo da paixão

Monalisas tive. Sem o mesmo riso
mas com outros atributos
Confessaram me amar. Também disse que as amava
com um ar de um certo talvez

falo de muitas coisas. Pouco dos meus segredos
e se não consigo dormir, também não falo
e no silêncio minha alma dorme

fiz uma pausa em tuas lembranças
no drinque depois do banho
da provisória danação e do teu céu encoberto
não queria te ver pegar a sombrinha e partir
mas, se foi preciso…

não és uma inútil. Tua poesia rasga as veias
e traspassa corações. Teu medo é natural
e nem todos os dias são bons

não és filha de Lilith. És somente uma Eva
quem sabe mais uma mulher de preto
rainha ou última guerreira

troca os morangos mofados
solve o vinho que ainda está na taça
sem apego ao que é fumaça ou cristal
devora as batatas
morrer? Nenhum pouquinho

só não quero é chegar ao final
e contemplar a face impassível de Deus
eu quero é pular o abismo
e ir morar com Ele.

Paulo Salles

30 de outubro de 2009 10:54″
Obs. Embora não possa deixar de apontar que, a palavra “Versificando” foi usada inicialmente por Waldir Mansur numa letra belíssima de sua autoria que foi musicada pelo próprio.
Poesia melhor para finalizar uma obra desta magnitude não poderia haver que a escolhida por Gerusa – “Contemplação”.. Nada  poderia ser mais apropriado para o leitor! Parado ficar, em êxtase, contemplando…
De dentro da imensidão poente/à beira do precipício de mim/contemplo carneiros de algodão/na face impassível de Deus.
Meus carneirinhos de algodão, foram os poemas e, desta obra que ainda ressoam em min’alma, são os olhos da face impassível de Deus que consegui enxergar ao finalizá-la.
Cinco estrelinhas sem favor algum! E recomendo a todos que apreciam uma boa literatura.
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Alberto, só posso te agradecer pelas palavras generosas sobre Versilêncios e parabenizar pela divulgação da literatura que promove num post como este.
Abraço e que a poesia nunca nos abandone.

É uma honra para este escrivinhador, receber aqui neste blog, os comentários desta, que pra mim se revelou como uma poetisa de(cor).
Não pela falta dela (da cor) mas, pela sua pluralidade, sensibilidade manifesta através de belas construções de linguagem que só enriquecem nossa língua tão aviltada.
Não fiz favor algum nem tampouco fui generoso nas palavras que escrevi sobre Versilêncios. Talvez, e provavelmente foi o que fiz, tenha sido modesto e comedido.

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