Entrevista com a autora de Versilêncios – Gerusa Leal

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Meus queridos agora já 24 leitores,
Hoje, com muita alegria, trago a prometida entrevista com a autora de “Versilêncios” e “Carolina”, nossa querida Gerusa Leal. Pessoa de uma simplicidade que comove, difícil de encontrar nos dias atuais, principalmente em alguém que já é quase uma estrela. Brincadeirinha viu Gerusa? Mas agora falando sério: ela só ainda não é uma estrela por falta de mídia mas, seu valor é inegável.
Bem, mas vamos à entrevista:

Gerusa-Leal-2REDEntrevista com Gerusa Leal, autora do livro de poemas “Versilêncios” e o infantojuvenil “Carolina“, ambos já comentados aqui no blog Verdades de um Ser.

Entrevistador – Alberto Valença (AV)
1.      AV – Você é psicóloga. Como aconteceu essa transposição para ser escritora?
Gerusa Leal – Não foi bem uma transposição, no caso, Alberto. Eu já havia abandonado a clínica e o exercício da psicologia organizacional há muito tempo, escolhas que a gente vai fazendo na vida. Vida que seguiu, me aposentei do serviço público federal e após alguns anos tentando um ou outro hobby, leitora inveterada que sempre fui, descobri a possibilidade da criação literária.
2.     AV –  Você se considera uma escritora psicóloga ou uma psicóloga escritora?
Gerusa Leal – Nem uma coisa nem outra. Me considero uma pessoa, gente, que já esteve psicóloga em uma fase da vida, hoje está escritora, amanhã pode resolver se exercer em qualquer outra atividade humana de interesse.
3.      AV – Quando você teve a idéia de escrever Versilêncios?
Gerusa Leal – Não tive. Versilêncios surgiu da instigação de uma amiga, essa sim, excelente poeta, Márcia Maia, após três anos de convivência em um grupo digital onde exercitávamos escrever poemas a partir de imagens ou do que quer que fosse, semanalmente. Após uns três anos dessa brincadeira (tanto que meus poemas eu arquivava numa pasta que batizei de brincadeiras literárias), Márcia insistiu tanto comigo que eu tinha um livro de poemas, pelo tempo que os escrevíamos, que deveria inscrever no concurso da Academia Pernambucana de Letras. Meio de supetão acabei montando o livro, que resultou sendo o prêmio Edmir Domingues do ano.
4.   AV –    Por que este título? Ele surgiu depois da obra pronta ou antes de qualquer texto? Ou ainda durante a sua construção?
Gerusa Leal – O título, obviamente, que eu não usaria mais hoje em dia, veio de uma junção entre versos, que é a matéria-prima do livro, e silêncio, que é o que acho mais importante tanto na poesia quanto na prosa. O não dito, que paira nas entrelinhas ou fica reverberando ao final do poema e do texto e sobre o qual só no silêncio o leitor, com sua subjetividade, constrói um significado – que pode e geralmente é, principalmente quando o texto ou o poema atingem algum grau de qualidade, ser único e singular e muitas vezes totalmente diferente do que tentou construir o escritor.

Surgiu depois do livro montado. Só diante do todo estruturado é que o título me veio.

5.      AV – Como você teve a idéia de fazer poesia? Como você escreve? Os versos já saem prontos ou há algum retoque?
Gerusa-grupo
Gerusa Leal – Não tive. Um dia, a mesma Márcia Maia, numa Bienal do Livro de Pernambuco da vida, insistiu para que eu fosse participar também de uma oficina de criação poética com Frederico Barbosa, poeta pernambucano radicado em São Paulo. Eu achei que não tinha nada a ver, eu não era poeta, mas ela insistia, provocava, acabei indo conferir. De um dos exercícios propostos pelo ministrante da oficina resultou um poema que, em seguida, inscrevi num concurso literário da Fliporto, na época em que ainda era em Porto de Galinhas, e que acabou sendo contemplado com o 3º lugar. Daí surgiu o convite de Márcia pra freqüentar o grupo virtual de poetas chamado comasuapermissao, e o resto da história eu já contei acima.
Poesia eu escrevo por intuição. De repente alguma coisa me provoca, ou me vem um verso, ou uma imagem, ou uma encomenda, e a coisa flui. Depois trabalho com as ferramentas da criação em prosa, e às vezes acaba dando certo. Poema que já sai pronto, texto que já sai pronto, eu não acredito nisso. Pelo menos comigo não acontece. Quando algum escritor diz que foi assim, acredito quando o poema ou o texto é muito ruim. Geralmente a primeira versão do que se escreve não é boa. Se o texto ou o poema é bom ou muito bom, desconfio sempre de que o escritor está mentindo, inclusive não entendo o objetivo, pois se a criação literária baixa inspirada pelas musas, que mérito há em ser um mero rádio receptor? É claro que se o escritor, o poeta, lê muito, estuda muito, cria muito e há muito tempo, mesmo na primeira versão, que costuma vir pela via da intuição, cada vez mais o texto ou o poema vai precisando de menos “retoques” como você chama. Mas os grandes escritores nunca deixaram de retrabalhar seus textos e/ou poemas. Pelo menos aqueles que não têm a arrogância de achar que já atingiram a perfeição no ofício.
    AV –  Conte um pouco sobre sua vida e sua obra.
Gerusa Leal – Vida boa. Vou fazer 60 anos, tenho um filho maravilhoso, uma família de fazer inveja, consigo pagar minhas contas, tenho dívidas, problemas, questões de saúde como todo mundo, e me considero uma pessoa feliz, privilegiada. Obra? Sei o que é isso não. Escrevo há cerca de 10 anos apenas, muito pouco tempo para se considerar ter uma “obra”. Escrevo por necessidade de expressãogerusa3

artística, mas principalmente por prazer, porque, antes de tudo, gosto muito de ler. Geralmente não consigo exatamente como queria, mas escrevo aquilo que gostaria de ler, sem me focar muito em gênero, em temática, como já disse antes, escrevo quando alguma coisa me provoca de alguma forma.

7.      AV – É possível você desvendar para nossos leitores a “flor de gelo”?
Gerusa Leal – Na hora em que um símbolo, uma imagem, um significante puder ser “desvendado”, passa a ser apenas uma logomarca. A flor de gelo é aquilo que a imagem dela te faz sentir que é. A polissemia é a marca da imagética, e é dela que é feita boa parte da boa poesia – em verso ou em prosa. Eu espero que a flor de gelo, se possível, tenha um “significado” diferente para cada um que entre em contato com ela.
     AV –     Sua leitura preferida é poesia ou prosa?
Gerusa Leal – As duas. Vai do dia, da hora, da fase, da lua.
9.      AV – Qual a sua dica para quem quer fazer poesia?
Gerusa Leal – A mesma que pra quem quer escrever prosa. Leia, leia, leia e depois leia mais um pouco. Estude, estude, estude e depois estude mais um pouco. Escreva, reescreva, reescreva, deixe o texto ou o poema descansar um tempo, depois pegue, leia, reescreva, quando achar que já está pronto mostre a algumas pessoas que também sofram do mesmo mal que você e que não sejam apenas parentes e/ou amigos e escute como lhes chega o poema ou o texto. Se só tiver aplausos numa primeira leitura, desconfie. Se só tiver críticas, também. Leve em conta os aplausos e as críticas e depois faça com seu poema ou com seu texto o que bem entender, afinal o texto, o poema, é seu, você é o autor, o filho é seu.
      AV – .  Qual o comentário sobre o seu livro que mais lhe agradou?
Gerusa Leal – Foram vários. Desde o telefonema de César Leal, que estava na banca examinadora que o selecionou, na Academia Pernambucana de Letras, dentre outras coisas perguntando se eu sabia que o livro era irregular – e eu sabia, e eu sei – até os textos dos pré e posfácio escritos por Stèphane Chao e André Cervinsky, algumas críticas como a sua, a de Paulo Bentancur, e outras, algumas citadas no seu post, e muito, mas muito mesmo, dos retornos de pessoas que leram o livro e chegaram para me falar do seu ou dos seus poemas preferidos que são, sempre, diferentes para cada um. Apesar de irregular, o livro já me deu muitas alegrias. Mas o meu exemplar está rabiscadíssimo. Fosse fazer uma nova edição, já sairia um novo livro.
         AV – Quais os seus poetas favoritos?
Gerusa Leal – Dentre os nacionais, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, embora a lista dos meus preferidos seja bem maior. Dentre os estrangeiros, Fernando Pessoa sempre teve minha preferência, mas também é maior a lista dos que curto e visito sempre (acho que não passo um dia sequer sem ler ou reler ao menos um poema).
        AV –Qual o seu passatempo preferido?
Gerusa Leal – Assistir bons seriados estrangeiros na TV, ouvir música e, claro, ler (se bem que hoje em dia também leio muito sem ser para passar tempo).
       AV – O que foi mais gratificante no lançamento deste livro?
Gerusa Leal – Tudo. Desde o recital, pelas excelentes Silvana Menezes, Suzana Morais, Mariane Bigio e Cida Pedrosa – que à época compunham o grupo Vozes Femininas – à presença de muitos amigos e familiares queridos, inclusive brindada com a presença e um comentário do amigo, professor e mestre Raimundo Carrero. É claro que comemorei as vendas também pois, talvez mais pelo afeto e curiosidade, já que sou uma poeta menor e, à época, desconhecida até aqui em nossa aldeia, vendemos cerca de 50 exemplares. Aqui em nossa aldeia, e nessas condições, e em se tratando de poesia, é coisa pra gente sair se sentindo bastante gratificada.
       AV –   Seu pai também foi escritor não é? Isso teve alguma influência na sua vida, na sua trajetória como escritora?
Gerusa Leal – Meu pai foi escritor, sim, só que se eu sou autocrítica, ele era dez vezes mais que eu. Então publicou pouco e mesmo assim se arrependeu depois. Coisa de quem busca algum grau de qualidade no que escreve. Meu pai ter sido escritor teve influência sim, tanto na minha vida como na forma como crio, como escrevo. Na trajetória como escritora, na medida em que foi tão crítico dos poucos textos que mostrei pra ele na adolescência que abandonei completamente o meio de expressão artística para só conseguir retomá-lo, mesmo com o peso dessa crítica e autocrítica excessivas, depois de vários meses freqüentando as oficinas do escritor Raimundo Carrero, mestre também em nos colocar no caminho do meio entre a humildade e a vaidade quando se trata de avaliar nossos próprios textos. Mas a maior influência mesmo que meu pai teve no meu caminhar de escritora acho que foi tê-lo visto a vida inteira com um livro nas mãos ou escrevendo. Isso o absorvia tanto que só podia ser uma coisa muito interessante. Passo esse viés autobiográfico em Carolina.
        AV – Você tem outros livros escritos não é? Quais são e o que eles representam pra você?
Gerusa Leal – Solo, apenas Carolina, infantojuvenil. No mais, participo de cerca de uma dúzia de coletâneas e antologias impressas e outro tanto digitais. Já devia ter estruturado ao menos um livro de contos, mas ainda não achei que encontrei o ponto.
         AV – Você já foi premiada várias vezes. Qual o prêmio que mais lhe emocionou? E o que você considera mais importante?
Gerusa Leal – Prêmio é coisa boa. No mínimo, te dá visibilidade, te abre portas, às vezes tem uma graninha. Mas prêmio não é garantia absoluta de qualidade, diz apenas que, naquele momento, dentre os inscritos no certame, para aquela banca examinadora, sua obra ou seu texto ou seu poema foi considerado o melhor. Prêmio é bom pra lhe dar retorno sobre como sua obra chega a pessoas que não lhe conhecem, que não têm com você laços afetivos que interfiram na avaliação. Todos me emocionaram, considero todos importantes. Cada um me emocionou de um jeito e foi importante por uma razão diferente.
       AV – .  Por que?
Porque é assim que eu sou, não consigo generalizar. Cada coisa é uma coisa, cada momento é um momento.
        AV – Qual o seu projeto para 2014?
Gerusa Leal – Quem sabe, conseguir editar ao menos um livro de microcontos. Já tenho material para isso. Falta descartar o que não serve, dar uma forma, um título, e ir atrás de uma gráfica/editora – pois autor autônomo – que não tem editora – tem que correr atrás de edição independente.
        AV  –  Qual a sua opinião sobre o blog “Verdades de um ser”?
Gerusa Leal – Louvo todo espaço em que se fale sobre literatura. Espero que o blog tenha vida longa e próspera.
       AV – Que mensagem você teria para os leitores?
Gerusa Leal – Continuem lendo e façam boas descobertas nessa arte que é a de ler.
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