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Barulhos, Ferreira Gullar, 7ª ed., José Olímpio, RJ, 2013, 105p.
ISBN – 978-85-03-01162-4

barulhos_gullar

Um livro de poemas, apresentado com uma introdução de André Seffrin, crítico e ensaista, no qual o autor oferece ao público 38 poemas com um tema em comum – barulhos. Barulhos de toda espécie, desde os sons que incomodam os ouvidos aos que perturbam o ser e a mente de alguém. Ao final, são apresentados dados biográficos do autor e suas obras.

O livro inicia, após a capa, a folha de rosto e os dados editoriais do livro e, antes do sumário, com uma página em branco, com uma única frase escrita no canto inferior direito em duas linhas:

Por favor,
leia devagar.

Por que o autor faz essa recomendação ao leitor? Certamente, para que não se despreze nenhum detalhe importante da obra, não passe despercebido nenhum barulho. Barulho é uma palavra recorrente na obra de Gullar. Vários de seus poemas aludem a este fenômeno que, quase sempre, provoca alguma espécie de dano. o livro, apesar de só ter 105 páginas, sendo que, de poemas propriamente só são 73, pois as demais são textos, digamos, auxiliares. São 38 poemas muito densos, dos quais, destacaria: Tanga, Despedida, Poema poroso, Mancha, Pintura, Quem sou eu?, Desastre, Omissão, Narciso e Narciso, Detrás do rosto, Barulho, Uma nordestina, O cheiro da tangerina, Dentro sem fora e Nasce o poema. Aqui selecionei os poemas que mais me tocaram, o que não significa, que os demais também não tenham seu valor.

Abaixo, transcrevo o poema que deu ao livro, o tema,  o título.

Barulho

Todo poema é feito de ar
apenas:

a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere

o metal
a pedra

não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa

de mulher.

O poema
é sem matéria palpável

tudo
o que há nele
é barulho

quando rumoreja
ao sopro da leitura.

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar, é como assina seus livros, José de Ribamar Ferreira, que nasceu no Maranhão, em São Luís, no dia 10 de setembro de 1930. Completou, portanto, há poucos dias, 85 anos. Escreve poemas desde jovem, tendo, já aos 21 anos, recebido o prêmio em um concurso de poesias promovido pelo Jornal de Letras, já tendo nessa época um livro publicado: Um pouco acima do chão (1949).

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Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a colaborar com jornais e revistas. Em 1954 publicou seu segundo livro – A luta corporal. Participou do movimento da Poesia concreta com o qual posteriormente rompeu para criar e liderar o grupo neoconcretista, cujo manifesto ele próprio redigiu e, posteriormente foi publicado como o ensaio Teoria do não objeto.

A partir de 1962, sua poesia era motivada pela necessidade moral de lutar contra a injustiça social e a opressão. Posteriormente escreve também peças teatrais em parceria com nomes famosos como Oduvaldo Viana Filho e Dias Gomes, entre outros.

Exilado em 1971, escreve na Argentina seu livro mais famoso- Poema sujo – sobre o qual, Vinícius de Moraes, afirma ser: “o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas“. Seis anos depois, já de volta ao Brasil, ele publica Antologia poética (1977), o ensaio Uma luz do chão (1978) e, em 1980 publica o livro de poemas Na vertigem do dia e , para marcar seus 50 anos,  reunindo toda sua obra, publica Toda poesia. Publicou ainda muitos outros livros, sendo vencedor de dois importantes prêmios em 2005: Da Fundação Conrad Wessel de Ciência e Cultura, pelo conjunto de sua obra, e o prêmio Machado de Assis, a maior honraria da Academia Brasileira de Letras. Em 2010 recebeu o Prêmio Camões, considerado a maior distinção concedida a um autor de língua portuguesa.

4-estrelas-redMereceu 4 estrelinhas.

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Ler devagar eh sempre bom! A primeira vez que li Ferreira Gulllar foi com 13 anos, e achei pesado para mim; na epoca, sem experiencia de vida, nao havia como interpretar os poemas. Depois sim, entendi sua densidade!
DenisesPlanet.com

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