Inexatidão do tempo – Contos [Livro]

Inexatidão do Tempo
Minhas verdades através dos livros
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Inexatidão do tempo

Bartyra Soares oferece Inexatidão do tempo, com Prefácio de Ana Maria César, Recife, Editora Novo Horizonte, 2015, 112 p.

Inexatidão do tempo
Inexatidão do tempo

O livro Inexatidão do Tempo de Bartyra Soares está dividido em duas partes. A primeira, denominada Inexatidão do tempo, composta por onze contos. E é como se intitula o conto que encerra esta parte, dando ao livro seu rótulo. E a Parte II, intitulada Oferendas, tambem composta por 11 contos. A exemplo da primeira parte, também é encerrada por um conto cujo título dá à parte, seu nome. Com um total de 22 contos curtos, com no máximo 6 páginas, tendo, a maioria deles, apenas três, a autora escreve magistralmente, com um jogo de palavras precisas em momentos decisivos. Ao final, são apresentados duas páginas com os dados bibliográficos da imortal e, mais duas, com a relação dos prêmios já conquistados e seus livros já publicados.

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Marcador personalizado que acompanha o livro

Bartyra Soares

Bartyra, como já escrevi aqui no blog, é uma poetisa que conheci recentemente.  Ela me encantou com o livro Arquitetura dos sentidos cuja resenha aqui pode ser encontrada e lida no link do título. É claro que este livro não se equipara ao citado mas, oferece ao leitor uma literatura de boa qualidade com construções literárias bem estruturadas e, como não poderia deixar de ser, de rara beleza poética. Ela quis trilhar os caminhos do pai, Pelópidas Soares, conhecido contista pernambucano, também, como a filha, membro da Academia Pernambucana de Letras. Já tinha lido outro livro de contos desta poetisa imortal e, como na poesia, a autora produz uma obra de qualidade superior à média.

O livro não é exatamente uma obra-prima. Embora existam alguns contos de grande relevância e, que merecem destaque, a maioria não trás nada de extraordinário, como, por exemplo, o livro anteriormente citado  que me fez passar a admirar o trabalho desta poetisa catendense, hoje imortal, após tomar posse na Academia Pernambucana de Letras no final do ano passado em evento registrado por este blog.

Prefácio

No prefácio, Ana Maria César, tambem acadêmica da APL, nos ensina através do escritor português Lobo Antunes, que “escrever é estruturar um delírio” e acrescenta que “o delírio se faz com palavras“. Em seu texto ela nos mostra um fato que fica evidenciado para qualquer leitor atento deste livro de Bartyra que é a propriedade com que a autora usa as palavras nestes vinte e dois contos que se sucedem como os minutos de um tempo cuja inexatidão se configura nas palavras de Bartyra nos contos da primeira parte do livro e, em particular, no que dá ao livro seu título.

Quando anteriormente afirmei que este livro não tinha nada de extraordinário, não quis que isto significasse que o livro não tem qualidades ou que não se destaca dentre muitos do gênero. O que quis afirmar foi que, simplesmente, ele não é uma obra-prima do gênero, como o é Arquitetura dos sentidos. Entretanto, trata-se de um ótimo livro com qualidades inquestionáveis. Como afirmou a prefaciante, Bartyra consegue jogar com as palavras de modo magistral e, o que é mais relevante: ela o faz, ainda que em prosa, em seu inconfundível tom poético. O lirismo e a beleza está em cada página, sem precisar grande esforço para os reconhecer.

Destaque

Destaca-SE de forma exuberante, entre os contos da primeira parte – “Mistério do momento(p.27). no qual a autora assim escreve: “Compreendeu que emergia do início de sua cumplicidade com a esperança.” Achei esta constução simplesmente, genial.

A autora sabe usar as palavras e as usa de modo poético ainda que em prosa. Há diversos pontos em que você se encanta com as belas construções de figuras de linguagem usadas de modo apropriado e com uma certa dose de lirismo como, por exemplo, no conto que dá ao livro o título: “De pé, pálpebras caídas sobre o silêncio, mãos sem nada reter, tudo perscrutei percebendo que o exato momento da escolha poderia ser o amanhecer ou o anoitecer, quando sombra e luz se confundem, se interpenetram e, ao mesmo tempo, se revelam independentes, solitários na tessitura cósmica.”(p.53).

Bartyra Soares nasceu em Catende, PE e, é a filha caçula do contista Pelópidas Soares e Teresinha Soares. Lá viveu sua infância e adolescência, tendo em 1984 se mudado para Recife onde vive desde então.

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Um pouco da história de Bartyra Soares

Já aos seis anos publicava no Diario de Pernambuco seu primeiro poema no Suplemento Infantil daquele matutino. Seu primeiro livro, Enigma,  foi publicado em 1976. Após a publicação de Sombras consolidadas em 1980 sua poesia ganhou uma nova forma, transformando-se em textos intimistas e confessionais. Entre 1980 e 2012 publicou mais nove livros a saber:

  1. O primeiro quadrante (em parceria com outros três contistas)
  2. No rosto do tempo
  3. Da permanência e da temporalidade (Um tempo de Catende)
  4. Veredictos
  5. Estrela em trânsito
  6. Arquitetura da luz
  7. Ciclo das oferendas
  8. Silêncio das velas vivas e
  9. Arquitetura dos sentidos.

Participou ainda de dezenas de antologias, dentre as quais, algumas merecem destaque como, por exemplo, Poésie du Brésil, em Paris, França; Um livro é um amigo, Coimbra, Portugal; Pernambuco, Terra da poesia; um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Em 2014 organizou com as escritoras Lourdes Nicácio e Silva e Raphaela Nicácio a antologia Lendas do Nordeste e, em 2015, lançou seu último livro que ora o comento.

Foi premiada 16 vezes por sua produção literária, tanto de prosa como de poesia. Destacam-se entre eles: Medalha de ouro outorgada pela prefeitura de Catende por seu livro Da permanência e da temporalidade (Um tempo de Catende) em 1987; com o livro Estrela em trânsito, a autora conquistrou dois prêmios: em 1993, o 1º lugar em Menção Honrosa do Concurso Lieterário Governo do Estado de Pernambuco/FUNDARPE e em 1999, no Concurso Carlos Drummond de Andrade no Rio de Janeiro para obras publicadas e, finalmente, pelo livro Arquitetura dos sentidos, a autora conquistou o prêmio em 2012 da Academia Pernambucana de Letras de Menção Honrosa.

Mereceu quatro estrelinhas e recomendo a quem quiser conhecer um livro bem escrito e de ótima qualidade.

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