Não sei se já havia experimentado escrever contos antes, Alberto. Li o seu postado agora e percebi que você sabe contar uma história, que já é um grande passo pra quem pretende investir na criação de contos. Sou uma mera escrevinhadora. Mas se curte como eu escrever contos, te deixo já a sugestão de participar de oficinas de criação, e de ter à mão livros como Os segredos da ficção, de Raimundo Carrero. Abração e parabéns pela postagem.
Primeiro conto de Alberto Valença
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Verdades de meu ser [Textos autorais]
- Tags: conto de Alberto Valença, modelo brasileira, Paris
Uma modelo suburbana em Paris
Ele estava sentado na escrivaninha do seu quarto, escrevendo mais uma carta… ouvia as músicas que tocavam no rádio naquela madrugada, como tantas vezes acontecera. Era janeiro, e não deveria estar tão frio, mas a temperatura era uma condição interior. Ele estava desolado. Tentava, em vão, coordenar as ideias para transpô-las pra o papel.
Júlio vivia num lugarejo afastado da cidade e, todos os dias, ao acordar já com o sol alto, levantava-se, ia ao banheiro, satisfazia as necessidades, asseava-se, às vezes tomava banho, e ia até a cozinha, onde sua irmã lhe recebia, sempre, com um sorriso, um bom dia e uma mesa com frutas, leite, café, pães, bolos, granola, queijos, manteiga e, algumas vezes, um ou dois ovos mexidos. Júlio, sempre, ao chegar na cozinha, abria a geladeira e pegava um iogurte ou um suco de alguma fruta que a irmã tivesse escolhido pra aquela manhã.
Na madrugada anterior, Júlio tinha ficado travado. Não era comum. Em geral ele tinha muita facilidade pra escrever mas, naquela madrugada nada lhe inspirava. Nem as músicas que escutara no rádio que, na programação, contou com músicas de Marina, Caetano Veloso, Chico Buarque, Vinícius e Toquinho…
– Você vai ao correio hoje? perguntou-lhe Suzana despretenciosamente.
– Não tenho nada pra fazer lá hoje. Você precisa de alguma coisa?
– Queria que você visse se chegou alguma carta de Paris. Estou esperando já faz dias. Aquele rapaz que esteve aqui em novembro, está lembrado? Ele ficou de nos escrever.
– Sei, o Claude? Aquele almofadinha?
– Não fale assim do rapaz. Ele é um doce de pessoa. Ficou tão agradecido por nós termos lhe hospedado. Estava sem nenhum tostão. Tinha chegado na cidade e não conhecia ninguém. Dançamos naquela noite e ficamos amigos. Você nem nos viu. Só tinha olhos pra Marina.
– É, eu só aceitei hospedá-lo por causa de você e de Marina. Grande fanfarrão, isso sim é o que ele é.
Marina era a namorada de Júlio que fora pra Paris com Claude há um mês e três semanas. Brigara com Júlio por causa do francês que queria transformá-la numa modelo. Era para ela que Júlio tentara, em vão, na noite anterior, escrever uma carta. Estava com saudades, mas não conseguia aceitar a decisão da ex-namorada. Deixar tudo pra trás? Aventurar-se com um desconhecido, numa cidade estranha, sem falar a língua nem conhecer coisa alguma? Era uma loucura! Mas não pudera fazer nada…
No dia seguinte amanheceu estampado nos jornais: “Modelo brasileira é encontrada morta num apartamento em Paris”
– Seria Marina?, pergunta Júlio à irmã. A notícia não revelava muita coisa, mas narrava: “Modelo brasileira é encontrada morta, vitima de overdose num apartamento em Paris. A polícia não revelou sua identidade para não comprometer as investigações. O Itamaraty está em contato com a Interpol para esclarecer os fatos.”