As cariocas [ Filme ]
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Minhas verdades através dos filmes
- Tags: Fernando Barros, Roberto Santos, Walter Hugo Khouri
Trata-se de um filme brasileiro de 1966 que assisti em 17 de janeiro de 1967 no Cinema São Luiz em Recife – PE. O filme foi realizado por três diretores – Fernando de Barros, Walter Hugo Khouri e Roberto Santos que adaptaram 3 histórias do romance homônimo de Sérgio Porto, pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. É ele quem faz a narração do prólogo do filme, com cenas referentes ao Rio de Janeiro da época, onde são mostradas cenas de futebol, com gols de Pelé e Garrincha pela Seleção Brasileira, o carnaval e desfiles de concurso de beleza. A primeira história é uma comédia romântica, a segunda um drama e a terceira uma espécie de documentário onde há uma interessante comparação na apresentação de cenas das ruas da Penha e de Copacabana, destacando os contrastes sociais das zonas pobre e rica da cidade, comparando a vida nas zonas norte e sul do Rio de Janeiro respectivamente.
Elenco:
1ª história
Norma Bengell……………………….Paula Ribeiro de Castro
John Herbert………………………….Cid
Walter Forster…………………………Dr. Téofilo “Téo” de Carvalho
Célia Biar……………………………….Didi Carvalho
Newton Prado………………………..Edu Ribeiro de Castro
e ainda: Lilian Lemmertz, Giedre Valeika, Guy Ditrigier, Célia Watanabe, Miguel di Pietro, Beth Barcellos, Francisco Sena, E. Hermany e Joel Ferreira.
2ª hitória
Jacqueline Myrna…………………….. Julia
Mário Benvenutti………………………..Primeiro amante
Sérgio Hingst…………………………….Segundo amante
Francisco Di Franco (nos letreiros Francisco de Souza)…José Luiz
e ainda: Vera Barreto Leite, Ramires Orlando, José Amaral, José P. Moreira
3ª história
Iris Bruzzi ………………………………Marlene Cardoso
Esmeralda Barros………………….Tânia
e ainda: Ivan De Souza, Celso Guedes de Carvalho, Ruth de Souza
Zezé Macedo…participação especial como “Mulher Ciumenta” em “Paquera na Praia”
José Lewgoy…participação especial como “Bicheiro” em “Os contraventores”
Amilton Fernandes…aparição especial como “Capitão Maurício” em O Sheik de Agadir
Ankito…participação especial como “O Paquera” em “Paquera na Praia”
Carlos Heitor Cony e Sônia Clara.
1ª história – Trata-se de uma adaptação livre da história “A grã-fina de Copacabana”. Com uma sátira formidável a tudo e a todos, Fernando de Barros mostrou como se pode fazer. Com Norma Benguel e John Hebert envolvidos nesta trama, o diretor nos apresenta uma divertidíssima história que nos provoca ao final boas gargalhadas.
Paula (Norma Benguel) pede ao marido um carro de cujo tipo só existiam dois no Rio de Janeiro. Um ele dera à amante e o outro era do amante de Paula. Sem Paula nem o amante (John Hebert) saberem, nem tampouco o marido nem a amante dele saberem, o amante de Paula era também o marido da amante do marido dela (de Paula). Durante os 35 minutos dessa história, o espectador não pode deixar de rir com as situações vividas pelos personagens, quando se apresentam muitas coincidências num emaranhado de acontecimentos formando uma trama perfeita e sem retoques.
No final, o marido de Paula vende o carro a sua amante e, ficam os dois, Paula e o amante, a rirem. A história é bastante confusa pra explicar mas, para quem assiste, fica muito simples de compreender. E de rir sem conseguir controlar-se
2ª história – Esta história é uma adaptação de “A noiva do Catete” onde Walter Hugo Khoury realiza um verdadeiro filme de Antonioni, inclusive com Jaqueline Mirna caracterizada para parecer-se muito com Virna Lisi, musa de Antonioni. Os críticos recifenses assim como os cariocas não gostaram desta história. Diziam que o diretor copiou Antonioni. Isso é verdade mas, o bom é que ele fez um ótimo trabalho. Embora tenha sido uma cópia não deixa de ser uma obra de arte digna de elogios. O próprio Antonioni ficaria em dúvida se a direção do filme não havia sido sua. Os desempenhos são um primor e a cotação desta história merece cinco estrelinhas. Cotação máxima! Enquanto as outras duas histórias ficaram com quatro e meia estrelas para a primeira e quatro para a terceira. Nesta história, o tema é também o mais comum de Antonioni – o vazio, o tédio. E a história é muito bem estruturada.
3ª história – Esta última é a adaptação da história “A desinibida de Grajaú”. Tanto para a crítica como o público recifense quanto os de outros lugares, houve quase unanimidade na escolha desta história como a melhor do filme mas, na minha opinião, esta foi a pior história. O que não significa, evidentemente, que a história é ruim. Não, é ótima! Muito bem dirigida, bons desempenhos, bom enredo. Uma forte crítica à sociedade carioca e ao povo em geral. Roberto Santos faz desta história uma verdadeira anarquia. No final, Marlene (Iris Bruzzi), diante das câmeras de TV dá uma grande banana pra o público, já revoltada com toda aquela hipocrisia. Nesta hora, começa a tocar o hino carioca: “Cidade, maravilhosa,/ cheia de encantos mil,/ cidade maravilhosa,/ coração do meu Brasil…” Com isto, diante dos fatos mostrados no filme, fica um enorme contraste entre o que diz a música e o que acontece na realidade. Com isto o diretor ridiculariza completamente o Rio de Janeiro, cidade que jamais poderia ser chamada de maravilhosa. Cheia de favelas e de mazelas.
O filme encerra com uma tomada aérea do Cristo Redentor ao som de “Cidade Maravilhosa” que continua a tocar.
Finalizando, este conjunto de três histórias merecia ter sido prestigiado pelo público, não só recifense mas do Brasil. Infelizmente, o filme desapareceu e ninguém mais fala nele.
As Cariocas foi um filme que evidenciou a melhora do nível do filme brasileiro que hoje concorre em situação de igualdade com muitos filmes estrangeiros.
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