Desafio literário – A theme, a day #3
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Notícias ou dicas
- Tags: A theme a day
Conversa com desconhecido
Certa vez estava numa parada de ônibus esperando o transporte pra voltar pra casa tarde da noite. O local era esquisito e estava completamente deserto. Não tinha uma viv’alma no meio da rua. Estava com medo, lógico. Tinha vindo da casa da namorada no Jordão e depois de muitas carícias e amassos, com a calça toda melada aguardava o bendito ônibus de UR-11 ou Dois Carneiros. Na época não existiam ainda essas linhas de integração. Já eram mais de 22h e eu queria sair dali o quanto antes. De repente, param 2 caras numa moto bastante agitados pedindo meu celular e com uma arma apontada pra mim. Tinha na época um dos celulares mais caros da Nokia. Contrariado, tirei o celular do bolso e entreguei ao que estava na garupa. Melhor perder o celular do que a vida, pensei. Ele olhou o celular pra ver se estava bloqueado e falou alguma coisa que não entendi pra o que estava pilotando e sairam os dois na disparada! Certamente queriam o celular pra algum detento ou pra algum outro crime pois sequer pediram minha carteira, o que estranhei. Pouco depois, chega na parada outro rapaz. Franzino, cabelo curto, moreno, estatura média. Falei pra ele pois estava tremendo e precisava desabafar: acabei de ser assaltado agora! Dois caras numa moto levaram meu celular. O que achei estranho foi que eles não pediram minha carteira. Burramente, fui fazer esse comentário. O cara era também um ladrão. Tirou a arma das costas e me disse: pois então passa a carteira pra cá otário! Eu lhe entreguei a carteira e ele saiu andando tranquilamente pela rua dobrando na primeira esquina, sempre olhando pra trás pra ver se eu continuava no ponto do ônibus. Antes de sair ele disse: “fique parado se não quiser levar um tiro.”
Em uma mesma noite, fui assaltado duas vezes! Pouco depois passa o ônibus e dou sinal. Ao parar, informo ao motorista que acabara de ser assaltado duas vezes e que tinham levado meu dinheiro. Não tinha como pagar a passagem e morava na Boa Vista e se ele podia me levar até a cidade pelo amor de Deus. Ele mandou eu subir e eu fui conversando com ele durante o trajeto.
Depois de uma noite de amassos na casa da namorada, sou assaltado duas vezes, fico sem meu celular, sem dinheiro e pedindo favor pra conseguir voltar pra casa. Felizmente, existiam pessoas de bom coração como ele pra ajudar. E ele contava também sobre coisas que ocorriam nas viagens e que outro dia ele escapou de levar um tiro quando um ladrão foi assaltar um passageiro e ele era um policial e estava armado. Atirou no ladrão mas o comparsa que estava lá atrás e não tinha se identificado sacou sua arma e atirou no policial que também caiu no chão. Quando ia passando na ponte Motocolombó, que é um dos lugares mais perigosos de Recife a qualquer hora, principalmente à noite, ele parou o ônibus abriu a porta e disse. Cara, se você quiser ficar aqui não precisa pagar nada mas, se quiser ir pra cidade quero o seu relógio. É só uma troca. Como você não tem dinheiro pra passagem, está aí com a calça toda melada de porra, se quiser ir até a cidade precisa me dar alguma recompensa. Seu relógio é bonito e eu aceito ele como pagamento. Senão, pode descer e ir a pé até sua casa. Eu não tive alternativa…
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