Talvez por isso você tenha se tornado assim, tão inconstante. Talvez essa grande decepção amorosa, o tenha feito criar uma redoma de proteção. E, sem ter consciência disso, você tenha medo de se “apegar” a um amor pra vida inteira.
Por medo de sofrer novamente outra grande decepção amorosa, vc se afasta da felicidade PLENA!
UMA GOTINHA DE SOL
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Verdades de meu ser [Textos autorais]
- Tags: renascimento, separação, sofrimento
Hoje quero compartilhar um texto que escrevi há muito tempo. Devia ter uns 20 anos ou menos. Para que entendam o seu conteúdo, preciso fazer uma rápida ambientação e falar sobre o que aconteceu antes. Estava noivo e este noivado acabou deixando-me completamente arrasado. Passei nove meses em estado de completo aniquilamento até que depois desse tempo, resolvi escrever o texto a seguir que foi lido em público numa igreja (Igreja dos Salesianos, Recife – PE) para mais de 200 pessoas durante uma missa dominical. Leiam então o que escrevi. Espero que gostem. Peço que deixem suas opiniões sobre o texto nos comentários.
* * * * * * * * * * * *
Uma gotinha de sol
Depois de tanto tempo ausente, meu amigo Cristo, por motivos que bem sabes quais foram, volto para falar contigo e, tenho um presente a dar-te: a perda de um amor que sofri (e sofri muito, tu bem o sabes) e a minha vitória. Por isto, passei tanto tempo longe de ti, sem te procurar. Tinha vergonha de mostrar-me tão fraco, sabendo da tua superioridade. E eu não queria ter-te por amigo para que fosses mostrar-me que eu jamais poderia chegar a amar como tu. E, embora sabendo que tu não farias isto, não quis arriscar-me. Hoje eu volto pra te contar a história, pois já consegui superar a decepção, a derrota! Não voltaria aqui, se não fosse assim. Foi aqui que te encontrei pela primeira vez e, foi aqui, que me deste, pela primeira vez, a maior sensação de calor humano que já senti. Não poderia voltar, caso não pudesse eu também, transmitir esse calor para os outros. E eu não poderia, se não estivesse amando a alguém, que trás, como uma estrela, o eco das nebulosas de volta para mim e, como uma rapozinha, devolve-me as coisas que são essenciais e ensina-me novamente a “ver as coisas que são invisíveis para os olhos mas, que se vê bem, quando se olha com o coração.”
Por isto eu voltei, meu amigo Cristo! Pois eu já estou vivendo novamente, e tenho orgulho de dizer-te isto. Sei que errei, sendo orgulhoso, mas o importante é que sou EU novamente, o importante é que eu posso novamente andar nas ruas de cabeça erguida de felicidade, distribuindo sorrisos para os que passam. O importante mesmo, é que eu amo a minha namorada – uma gotinha de sol chamada TERESA – que molhou meus olhos com sorrisos, num dia em que o céu encheu a lua com ternura e as estrelas beijaram a terra em contentamento; o importante mesmo, é que eu te amo melhor agora. O meu amor aperfeiçoou-se em todos os sentidos. Eu sofri, e o sofrimento, trás aperfeiçoamento.
Mas tu não precisas de muitas explicações, pois bem sei que sabias que o fato de eu não ter-te procurado para ajudar-me, não significava que eu não te considerava meu amigo. E tu sabes também, que mesmo sem eu querer (por orgulho, talvez) eu sabia que tu estavas me ajudando nos nove meses que precederam o meu renascimento e que, hoje eu sei, que só consegui ser EU novamente, por causa de ti. Mas assim mesmo, quero te contar o que foi que aconteceu. Existe uma crônica de Vinícius de Moraes – “Separação” – que sintetiza como nenhuma outra que tenha lido, como tudo começou. Vou lê-la para ti.
“Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim, por um lapso, em sua beleza morena, real, mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia que todo o seu ser evaporava-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa . lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes da separação.
Seus olhares fulguravam por um instante, um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar, prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara, desde sempre, e que por muitos anos buscara, em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse, colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes de amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa nudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias – um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde…”
Eu já não era ninguém, não era mais nada, não tinha mais nome, só tinha ainda, uma força de viver muito grande dentro de mim e, como era muito grande, pois foste tu quem a deste a mim, ela foi abalada, mas continuou intata. O que aconteceu depois, não é vantajoso lembrar. Mas eu consegui, meu amigo; foi difícil, mas eu consegui! O presente que eu tenho pra te dar é só este: muito obrigado, meu amigo, por você existir, muito obrigado por teres me dado esta vida tão linda, e estas coisas tão pequenas que falam de você. Muito obrigado Cristo, por você ser meu amigo. Obrigado por teres me dado novamente, as cores que perdi, na hora da separação.
Alberto Valença