Crônica de um viajante [Parte 2]
Continuando minha crônica de viajante, hoje vou escrever sobre uma viagem para o Ceará. Mais precisamente, para Quixeramobim, terra natal de meu pai, onde moravam meus avós paternos. Na época, apenas meu avô ainda era vivo.
Quixeramobim – CE
Já tinha ido uma vez àquela fazenda onde a seca era o cartão postal. Fora com meu pai e meu irmão mais novo, Alexandre. Não recordo se também minha irmã, Clarissa, estava conosco mas lembro que eu era ainda muito criança. Talvez tivesse uns 8 anos, no máximo. Uma das únicas coisas que ainda recordo dessa primeira viagem é a sensação de acordar de madrugada, com tudo ainda escuro, pra ir tomar leite no peito da vaca. Tenho ainda muito nítida essa imagem. Ainda no escuro, acredito que umas 4 ou 4 e meia da manhã, meu pai me acordando e me chamando pra irmos até o curral pra tomar o leite na hora que estava sendo tirado da vaca, ainda quente.
Nessa viagem, lembro de uma coisa engraçada que aconteceu comigo. Um dos meus primos, Lima, já era bem mais velho que eu. Nós andávamos muito a cavalo pela fazenda. Isso era delicioso. Eu adorava andar a cavalo. Sentia-me como o próprio vaqueiro ou, talvez, com um cowboy dos filmes de farwest. Só não carregava uma arma no coldre. 🙂
Situação engraçada
Em certo dia, fomos até um vilarejo distante, buscar água ou alguma outra coisa. Não recordo. Para isso, levamos o jumento. E eu fiquei interessado em sair novamente com aquele jumento depois. Fui então pra algum lugar que tinha uma ladeira. Na ida foi uma maravilha mas na volta, quem disse que o jumento queria voltar? Empacou na descida da ladeira e não teve jeito de fazê-lo andar. Tive que ir a pé até em casa, pedir a Lima que fosse até a ladeira pra buscar o jumento que estava empacado.
Mas não é sobre esta viagem que quero falar. É de outra que fiz com uns 17 ou 18 anos para o mesmo lugar. Meus avós já não eram vivos. Mas uma coisa é ainda muito nítida: aquela noite estrelada e o meu primeiro beijo. Foi com uma outra prima por quem fui muito apaixonado – Teresa – que vivi esta história.
Um outra viagem
Fomos de carro até Fortaleza. Papai, mamãe e meus irmãos. Teresa foi com o irmão, o noivo e a mãe em outro tipo de condução. Não lembro mais de que forma mas, não foram conosco. Encontramo-nos lá, já em Fortaleza. Ela ficou na casa de meu tio e eu, meus pais e meus irmãos, na casa de uma tia que morava bem distante. Quase não tínhamos oportunidade de nos vermos. Era um sofrimento pra mim.
Até que meu pai resolveu ir para a fazenda de vovô. Ela foi comigo num jipe junto com meu pai. Nem foram os meus irmãos nem os parentes dela nem o noivo. Fomos só nós três. Não recordo a razão de os outros não terem ido mas, creio que foi porque lá não tinha atrativos.
Foi um sonho. Em uma das noites lá na fazenda, onde não havia luz elétrica, vi a noite estrelada mais linda que já tinha visto até então. O céu parecia que estava pintado. Eram tantas as estrelas que era difícil escolher pra onde olhar. E ali, debaixo daquele manto de estrelas, onde já estávamos de mãos dadas, dei o meu primeiro beijo. Ou melhor, ela deu em mim o meu primeiro beijo pois eu era muito tímido. Foi a sensação mais maravilhosa que já tinha sentido na vida. E aquela sensação, ainda ficou no meu ser durante muito tempo.
E eu me tornara um ser melhor, mais vivido, mais experiente, embora ainda muito ingênuo.
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