Parabéns! Gostei do esclarecimento. Gostei da forma tão completa e detalhada que o fez. Obrigada! Um abraço repleto de paz a você.
A poeta ou a poetisa? Qual o correto? [Texto autoral]
Poeta é comum aos dois gêneros?
Esta é uma discussão antiga. Já postei aqui no blog Verdades de um Ser, um texto sobre o assunto mas, ontem deparei-me com um texto muito bem escrito e fundamentado do escritor e poeta Judd Marriott Mendes do Recanto das Letras intitulado “Qual é o certo, a poeta ou a poetisa?” (T6346426) que me chamou a atenção, pela seriedade com que o mesmo trata sobre a temática tão polêmica, embora, equivocadamente classificado, como Teoria Literária(2). Bem, mas apesar disso, li atentamente todo o texto e assim me posicionei.
Poema que gerou a polêmica
No seu artigo, o poeta discorre sobre a polêmica que existe em torno desta questão. Tudo a partir de um poema da poetisa Cecília Meireles, que publicou “Motivo” onde assim se expressa:
“Motivo”
Cecília Meireles
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.”
Meu posicionamento
“Este é realmente um termo muito polêmico. Particularmente, não aceito o termo poeta para designar uma mulher que escreve poesias. Não vejo nenhum menosprezo ou desvalorização na palavra POETISA. É, muito pelo contrário, uma palavra belíssima. Considero de grande riqueza as poetisas, mulheres que se expressam através de poemas. Mas sei que existe este movimento em ação. Não sou alienado. Só não concordo com ele e, enquanto a Academia Brasileira de Letras, que é quem tem a última palavra a respeito da nossa língua pátria não se pronunciar a respeito, continuarei chamando as mulheres que escrevem versos de poetisas. E aí não vai nenhuma conotação negativa.
Do mesmo modo como também não há, por exemplo, em se chamar uma mulher que exerce a medicina de medica e não de MÉDICO, ou de se chamar uma mulher que dirige um caminhão de caminhoneira, ao invés de CAMINHONEIRO, profissão que no passado só havia homens, e tantas outras. Por que só com poetisa que querem mudar? Vamos então acabar com as palavras femininas. Todas elas são usadas em situações que desvalorizam a mulher pois, esta é uma condição da sociedade do passado. Não mais a atual. A mulher para mim é uma deusa. E tudo que se relaciona a ela é divino. Por que excluir o poetizar de suas prendas? Abraços poéticos.
Alberto Valença Lima”
Complemento do meu posicionamento
Voltei para acrescentar o seguinte:
“Ah! Faltou dizer uma coisa: Não me considero boçal nem odeio a riqueza da língua portuguesa. Sei que toda língua evolui mas não é do dia pra noite. Leva séculos para isso. Até que esta prática esteja instituída como uma coisa definitiva, muitas águas vão rolar. Não acredito que eu ou você ou mesmo os nossos filhos, assistam a esta mudança se consolidar. E a riqueza de nossa língua não está no falto de ela oferecer oportunidade para mudanças. Toda língua muda.” (Alberto Valença Lima)
Respostas de outros participantes
A poetisa Maria Madalena de jesus Gomes, também do Recanto das Letras , assim se posiciona nos comentários:
“Excelente o seu esclarecimento, propício para tirar muitas dúvidas, eu já tinha esse conhecimento e faço o uso indistintamente. Também vejo nenhuma depreciação no termo poetisa. Mas, quando vou tratar alguma amiga do meio poético, até nos comentários, me preocupo se irei ou não agradá-la se não usar o termo que a mesma prefira. Aff! Acho desnecessário mas, temeroso (rsrsrs) Abraços saudosos.”
Já o poeta Aurismar Mazinhjo Monteiro, também do mesmo Recanto das Letras, coloca o seguinte:
“Eu também já conhecia essa “polêmica”, mas, quando me ocorre, uso o termo “poetisa”. Não obstante, aplausos pela boa explicação, nobre colega. Aplausos! Firmes e avante, saúde e paz, sempre.”
Notem que, uma mulher e um homem, tomados do espaço do texto postado pelo poeta Judd, posicionam-se semelhante a mim. Ou seja, não vêm depreciação alguma na palavra “poetisa” E realmente não tem. Alguma mulher com algum espírito digamos “masculino” que escrevia versos, achou que ser chamada de poetisa era depreciativo. Talvez, no início do século passado, isso fosse verdade. Mas hoje? Quando tantas mulheres se aventuram a exercer profissões que antes eram privativas de homens? Não creio que esse sentimento deva perdurar. Há mulheres hoje, como pilotos de avião, caminhoneiras (como já mencionei), motoristas de taxi, de ônibus (!) e tantas outras profissões que no passado eram privativas dos homens, que não tem sentido essa polêmica.
Análise de todas as respostas
Após analisar todas as respostas na postagem do poeta Judd, verifica-se que, apenas uma mulher e um homem, se posicionam a favor da expressão “a poeta” num universo de 26 (vinte e seis) comentários, ou seja, apenas 7,7% das pessoas, concordam em usar “a poeta”. Isso é menos de 10% do total, fração insignificante para ser levada em consideração.
Conclusão
Na minha visão, as mulheres deviam era defender o privilégio de serem chamadas de poetisas. Quantas mulheres que no passado, início do século XX se aventuravam a escrever poesias? Pouquíssimas! Além de Florbela, a própria Cecília Meireles, e poucas outras.
Mas pergunto ainda: Por que as mulheres não se sentem desvalorizadas também, ou depreciadas para usar o termo correto, em serem chamadas de escritoras? Há relatos muito mais depreciativos de mulheres escritoras no passado do que de poetisas, que eram em número muito menor.
Há por exemplo, um relato do jornal O Globo, no site O Globo Cultural (disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/livros/as-escritoras-brasileiras-da-virada-dos-seculos-xix-xx-que-foram-esquecidas-21541955 e consultado em 25/08/2018), onde a escritora Julia Lopes de Almeida foi preterida como membro da ABL – Academia Brasileira de Letras, recém fundada, por ser mulher. E o marido foi quem ocupou o lugar que, por direito, seria seu, pelas obras já publicadas como “A falência” de 1901 e “Memórias de Martha” de 1888. Além da coluna semanal que manteve durante 3 anos (1909 – 1912), no influente jornal carioca “O Paiz”.
Particularmente, eu diria que Cecília ao escrever o poema acima citado não estava se chamando de poeta. A palavra “poeta” foi usada para rimar com “completa” do segundo verso. Além disso, há um outro indicativo de que ela não se referia a si própria com este poema. Isso é muito comum em poesias. Homens fazerem poesias como se mulheres fossem, ou vice-versa. Notem na última estrofe.
“Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.”
Ela não diz “estarei muda“. No seu verso, ela usa a palavra mudo, no masculino. Ou será que ela estava reivindicando para si também ser chamada além de poeta, de mudo, e de tantos outros adjetivos masculinos? Como, por exemplo, eu sou bonito, eu estou cansado, eu fiquei extasiado, etc.?
Provocação
E você? Na sua opinião, qual o correto? A poeta ou a poetisa?
Deixe nos comentários sua posição. Agradeço antecipadamente.
NOTAS
1 – O texto a que me referi no início deste artigo intitula-se “Poetisa sim senhor. A poeta é ó bolor” disponível no link.
2 – Teoria literária é algo que se escreve sobre determinado estilo literário e não, uma discussão sobre a classificação de uma determinada palavra. Saber se uma determinada palavrra é substantivo masculino ou feminino ou comum de dois gêneros é uma discussão para Gramática e não para Teoria Literária.