IDA – Pawel Pawlikowsky [Filme]
Direção – Pawel Pawlikowsky
O filme de estreia de Pawel Pawlikowsky foi “As viagens de Dostoiesvsky” em 1992. Ida é o seu oitavo filme. Em 2018 venceu o prêmio de Melhor diretor por seu filme Zimna wojna que ainda não tem título em português no Festival de Cannes e, foi indicado ao Oscar de Melhor diretor e Melhor filme estrangeiro, pelo seu filme Cold War que também ainda não tem título em português.
O filme inicia com Anna restaurando uma imagem de Jesus num convento onde vive desde a infância. Em seguida, ajudada por outras três freiras, ela leva a estátua para um pátio onde ela ficaria. É inverno e tudo está coberto de neve.
A madre superiora manda-a para encontrar-se com a tia dela, que nunca quis ficar com ela para se conhecerem antes de ela fazer seus votos. As duas têm um certo ranço, uma certa animosidade e o encontro das duas não é tão amistoso. Wanda, a tia, é ateia, e sente certa revolta contra Deus.
As duas saem em busca de seus passados. Transcrevo a seguir, o texto que acompanha o DVD deste filme.
“Polônia, 1962. Anna é uma órfã criada por freiras. Ela vai visitar Wanda. O único parente vivo. Na visita a tia diz a Anna que ela é judia. Então as duas iniciam uma viagem. Não só para encontrar a sua trágica história de família, mas para saber quem elas realmente são e aonde pertencem.”
Róza era a mãe de Anna que nunca havia saído do convento por todos os anos que lá viveu. Wanda tinha uma grande amizade com Róza e a admirava muito. Anna fica sabendo também que seu verdadeiro nome era Ida e, as duas, saem em busca do paradeiro dos pais de Ida, que eram, como ela, judeus.
Nessa busca Ida se defronta, pela primeira vez, com o desejo e a atração para um músico que as duas conhecem na viagem ao darem carona a ele.
O filme termina de uma forma bem emblemática e nos deixa a pensar. Ganhou diversos prêmios, entre os quais, o Oscar de Melhor filme estrangeiro em 2015.
DADOS TÉCNICOS SOBRE O FILME
Produção – Polônia e Dinamarca
Ano de lançamento – 2013
Direção – Pawel Pawlikowsky
Duração do filme – 1 hora e 20 minutos.
Elenco e personagens:
Agata Trzebuchowska como Ida Lebenstein (Anna)
Agata Kulesza como Wanda Gruz
Joanna Kulig como a cantora
Dawid Ogrodnik como Lis, o saxofonista
Adam Szyszkowski como Feliks Skiba
Jerzy Trela como Szymon Skiba
Prêmios
O filme venceu o Oscar e os outros prêmios merecidamente. Foi indicado também ao Oscar de Melhor fotografia. As mazelas da Segunda Grande Guerra estão estampadas nas fisionomias, na fotografia em preto e branco e, principalmente, na lentidão com que o filme se desenrola. Em momento algum é cansativo. Mas é, até certo ponto, deprimente, angustiante.
A começar pela imagem que Anna está restaurando no início do filme, de modo muito representativo do que seria necessário realizar naquela Polônia massacrada pela guerra, Pawel Pawlikowsky nos convida a uma viagem que vai nos mostrar, junto com Anna e sua tia, muitas mazelas que desconhecíamos (assim como Ida que nunca havia saído do convento). Algumas cenas são bem elaboradas e muito emblemáticas. Uma delas, que destaco, é a última cena em que a Wanda aparece no filme. Vocês vão identificar. É uma das poucas em que há uma agilidade e rapidez na sequência das cenas, como que a dizer ao espectador, que algumas situações precisam ser bem elaboradas.
Minha opinião sobre o filme
O filme mereceu quatro estrelinhas e recomendo a todos assistirem a ele.
A fotografia do filme é um caso a parte. Merece todo destaque. Não só pelas imagens de paisagens nebulosas e cheias de neve, como também pelas tomadas de expressões das duas atrizes principais que merecem destaque. As tomadas em close do rosto de Anna são também um dos pontos altos do filme. O diretor consegue nos transmitir uma mensagem de um certo estupor diante dos acontecimentos que fizeram da Polônia um lugar de um povo sofrido e sem confiança nos outros, como na cena em que as duas chegam na casa onde haviam morado e a nova moradora fica retraída. Wanda lhe diz que não iam roubar nada e a moça diz: “Não sei” mostrando a incredulidade nas pessoas desconhecidas.
Os diálogos são raros. As cenas são marcantes. A música é uma constante. Músicas clássicas como Jesus Cristo, alegria dos homens de Bach ou um das sinfonias de Mozart. O silêncio dos diálogos é uma representação, como tudo mais neste filme extremamente emblemático, das enormes incongruências que Anna passa a descobrir, bem como as lutas interiores que se travam entre a linearidade e quase tédio do que ela viveu no convento até o dia em que foi mandada pela madre superiora para visitar a tia, e as coisas até certo ponto chocantes que ela passou a perceber no mundo exterior que até então não conhecia.
O ritmo do filme, a fotografia, o desenrolar das cenas e até os personagens de Pawel Pawlikowsky lembram, e muito, Ingmar Bergman com seu Persona.
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