Muito obrigada poeta Alberto, comecei a estudar a teoria do Roundel e de primeira encontro esse conteúdo tão bem redigido.
O Roundel, mais uma forma de fazer poesia descoberta
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Verdades de meu ser [Textos autorais]
- Tags: Blog Verdades de um Ser, modalidade poética, poesia, Roundel
O Roundel
Como escrevi ontem no facebook, descobrir novas formas de compor poesias, é para mim, uma experiência ímpar. Ao descobrir o Roundel neste fim de semana foi como me senti. Vivendo uma experiência única.
Quando publiquei em 2018 meu primeiro livro solo, Caminhos de mim, o revisor do livro escreveu no pósfácio uma coisa que me deixou extasiado. Ele escreveu algo como ter ficado surpreso que eu conhecesse e praticasse tantas modalidades poéticas como as que eu apresentava no livro. Sempre fui muito curioso, e gosto de novas experiências. No livro, além dos clássicos sonetos, eu apresentava muitos outros estilos. Alguns mais conhecidos como o poetrix ou o indriso, outros quase desconhecidos como o mindim, o eco-sys, ou o rondel, por exemplo. Agora quero apresentar o roundel. E pretendo praticá-lo muito, embora seja bem trabalhoso.
Ressalto que tudo que aqui vou escrever a partir daqui, foi extraído, ou baseado na Wikipédia inglesa que pode ser acessada no link a seguir.
Roundel e Rondel
Não devemos confundir o Roundel com o Rondel, já bem conhecido, e no Recanto das Letras, muito particado. O primeiro é de origem inglesa. Já o segundo tem origem francesa. Mas só têm entre si uma pequena semelhança: ambos utilizam trechos da primeira estrofe na sua estrutura, e ambos têm três estrofes.
O Rondel (francês) é constituído por duas quadras e uma quintilha.
Já o Roundel (inglês) é formado por três tercetos, sendo que, dois deles, possuem um refrão, ficando portanto uma quadra. Enfim, o resultado é que ele se forma com duas quadras e um terceto.
Note que há uma diferença nos nomes. No último há um U antes do N.
O criador do Roundel
O Roundel parece ter sido criado por Algernon Charles Swinburne (1837-1909). Ele foi um poeta inglês, dramaturgo, romancista e crítico literário.
Esta é sua foto aos 52 anos. Ele publicou diversos livros, tendo entre eles várias coleções de poesias. Contribuiu para a famosa 11ª edição da Enciclopédia Britânica e escreveu sobre vários temas de tabu como lesbianismo, ateísmo, sadomasoquismo.
Aqui interessa destacar sua publicação A Century of Roundels (1833), dedicado a Christina Rossetti, uma poetisa inglesa que escrevia poemas infantis. Neste livro, entre os cem roundeis, havia vinte e quatro sobre bebês ou crinças.
Num bilhete que ele escreve para um amigo a quem entregou um exemplar deste livro, ele chama seus poemas de canções ou cançonetas, fazendo alusão exatamente à rima interna que existe no mesmo. Própria das letras de músicas. O roundel, portanto, tem melodia.
Mas afinal o que é o Roundel?
São três tercetos com a mesma métrica e rimas bem definidas. Possui uma forma fixa. As rimas são obrigatoriamente ABAR BAB ABAR onde R é um refrão incluído na primeira e última estrofes. E deve ter obrigatoriamente um título. O primeiro roundel tinha por título “The Roundel” (O Roundel).
A título de exemplo, vou transcrever a seguir este roundel e sua tradução. Notem que a rima é som e não grafia. Os sons das palavras que finalizam cada verso, rimam com as dos versos associados à mesma letra (A ou B). O R (refrão) rima com o segundo verso da primeira estrofe (B).
“The roundel”:
A roundel is wrought as a ring or a starbright sphere, (A)
With craft of delight and with cunning of sound unsought, (B)
That the heart of the hearer may smile if to pleasure his ear (A)
A roundel is wrought. (R)
Its jewel of music is carven of all or of aught – (B)
Love, laughter, or mourning – remembrance of rapture or fear – (A)
That fancy may fashion to hang in the ear of thought. (B)
As a bird’s quick song runs round, and the hearts in us hear (A)
Pause answer to pause, and again the same strain caught, (B)
So moves the device whence, round as a pearl or tear, (A)
A roundel is wrought. (R)
TRADUÇÃO
Na tradução, nem os versos terão a mesma métrica, nem tampouco rimas.
“O ROUNDEL”
Um roundel é feito como um anel ou uma esfera estrelada, (A)
Com arte de deleite e com astúcia de som não procurada, (B)
Para que o coração do ouvinte possa sorrir se agradar ao seu ouvido (A)
Um roundel é feito. (R)
Sua joia musical é esculpida de tudo ou de nada – (B)
Amor, riso ou luto – lembrança de êxtase ou medo – (A)
Essa fantasia pode ficar pendurada no ouvido do pensamento. (B)
Tal o canto rápido de um pássaro corre, e os nosso corações ouvem (A)
Pause a resposta para pausar e, novamente, a mesma tensão foi detectada, (B)
Então, move o dispositivo de onde, redondo como uma pérola ou lágrima, (A)
Um roundel é feito. (R)
Para finalizar, vou compor um roundel para servir de exemplo em português. Este é o meu primeiro Roundel.
Para fazer um Roundel
Alberto Valença Lima
Degustar só um roundel? (A)
Vamos agora sem nó, (B)
criar versos pra um Nobel. (A)
Degustar só? (R)
É tal dançar um forró… (B)
Faz de conta que é cordel,(A)
no tempo do rococó. (B)
Para fazer um roundel, (A)
requer jogar dominó (B)
para passar pra o papel.(A)
Degustar só? (R)
_____
Notas
1. R = Refrão. Precisa rimar com o segundo verso da primeira estrofe e ser extraído do início do primeiro verso.
Os tercetos são em redondilha maior. Não está sendo considerado na métrica o refrão, repetido nos finais das primeira e última estrofes. Pois sendo parte de um verso não pode ter a mesma métrica.
2. Note que há uma rima interna do meio do primeiro verso com o final do segundo. Esta, preferencialmente, deve ser um anapesto.
3. Anapesto é uma unidade rítimica do poema. Constitui-se de um ternário. (três tempos). Duas sílabas átonas e uma tônica, em rítimo ascendente. É o que dá rítimo ao poema ou à música. Muito utilizado nos galopes, por exemplo.