Haibuns de uma competição
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Verdades de meu ser [Textos autorais]
- Tags: Alberto Valença Lima, Blog Verdades de um Ser, Haibun, Haibuns, haicai, Haicais, Poesia japonesa
Haibuns em competição
Em novembro do ano passado participei de uma Corrida de Haibuns no Recanto das Letras. Foi interessante por duas razões: a primeira porque descobri um estilo literário que desconhecia, embora já praticasse o haicai há algum tempo. E segundo pela saudável disputa entre poetas e poetisas de lá. Foi uma experiência enriquecedora.
Haibun é um estilo japonês de compor poesias. Foi dele que se originou o Haicai. Consiste em duas partes distintas. Uma em prosa poética e outra que consiste no próprio haicai, que pode ser um ou mais. Sendo associado ao texto em prosa. Ele pode iniciar ou finalizar o haicai.
Uma regra interessante é que o texto, necessariamente, deve se referir ao presente. Nunca ao passado ou ao futuro. Precisa ser relativo a algum acontecimento do presente. E não deve ser algo relativo ao autor do haibun, ou seja, não deve ser usada a primeira pessoa.
Vamos então aos meus Haibuns.
A TARDE
Alberto Valença Lima
A tarde cai, lentamente em teus braços… Com ela, vêm também as estrelas, que colhes, feito flores no jardim… Embalado no teu colo, vejo contente a noite chegar. Pelos cobogós debruçados nas paredes. Parte de mim é calmaria… parte é êxtase… parte é silêncio… parte é prece… vem a Ave Maria! São seis horas… esta é a hora do Angelus, a Hora da Anunciação.
Finda mais um dia…
Desdobra Deus, sua obra,
Tecendo poesia.
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PASSEIO AO AMANHECER
Alberto Valença Lima
De mãos dadas, o caminho suave com preces da Lua que se esconde…
Primeiros raios do Sol majestoso e dourado acaricia a pele sedutora…
Nas árvores, pássaros festejam a manhã, que brota nos detalhes de lembranças guardadas no passado de uma história…
Som de melodias do namoro da passarada em êxtase, pelos primeiros passos da manhã que se espreguiça nos braços da noite que adormece.
E o flerte de mãos entrelaçadas, próximo de um beijo, do qual, o Sol se faz cúmplice, com tantos testemunhos ao redor.
Beija, o colo, terno…
Desliza o Sol nesta brisa…
Sedutor eterno!
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ALEGRIA
Alberto Valença Lima
Com um pedaço de cana na boca, menino satisfeito festeja sua alegria. Prazer expresso no olhar, a cana conquistada é pedaço de vitória. No pensamento, o instante se eterniza, e a mordida na cana, lentamente, nutre a fome e a sede. E este pedaço de cana, ainda com casca, transforma vidas.
de açúcar, a cana
estratégia de alimento
vira poesia
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AMANHECER FESTIVO
O Sol se debruça sobre as ruas e recebe dos pássaros uma melodia festiva saudando a manhã. O calor se espalha e a luz desperta também as flores que perfumam e deixam as ruas coloridas. Nada se furta às notas musicais entoadas…
surge o sabiá
alegrando esta manhã
amada ouve ária.
COMPOSIÇÃO DO CRIADOR
Alberto Valença Lima
Dividindo as cores
Borboleta e primavera
Singular momento…
Momento de poesia se mostra na primavera, com borboletas nas flores…
Perfume e cores se juntam na dança da criação divina.
Suavidade do toque. Leveza das pétalas. Reprodução perpétua.
O que é mais belo?
A vida?
As cores?
A dança?
O vôo?
As borboletas?
As flores?
Um suave pouso
Borboletas levam flores
Pólen que ela espalha.
PRIMAVERA
Alberto Valença Lima
A primavera se reflete nas águas límpidas do rio. Correnteza borbulhante da água nas pedras, do caminho tortuoso e acidentado. Vegetação em volta exuberante. O verde sobra nas margens.
O raiar do dia
Riacho coberto em cores
Carícia do Sol
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Nota
Haibun é um estilo de haicai, que consta de um texto minimalista em prosa inicial, retratando alguma cena, seguido de um ou mais haicais, totalizando um máximo de trezentas palavras.
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