O ouro de Quipapá [Livro]

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O ouro de Quipapá, Hubert Tézenas, Ed. Vestígio, Trad. Fernando Scheibe, 2014, 176p.

ouro-quipapaResumo – O livro consta de duas partes distribuídas em 24 capítulos, que não são apresentadas como de costume mas, através de capítulos alternados. Uma parte, o personagem principal é Alberico Cruz, e é narrada na terceira pessoa. A outra, é narrada pelo seu personagem principal, o filho de um senhor de engenho de Quipapá, Kelbian Carvalho. Os diálogos não tem travessão, o que é uma novidade embora, segundo Raimundo Carrero, renomado escritor pernambucano, mestre de uma escola para contistas, este seja um dos estilos usuais para o conto (in crítica literária no Suplemento Cultural PERNAMBUCO, do Diário Oficial do Estado). Link para a matéria.

A narrativa se inicia em abril de 1987 com o personagem Alberico Cruz se deslocando para o trabalho em um ônibus da UR-11. Corretor imobiliário de uma pequena agência – Luxor – nas proximidades da av. Norte. A narrativa é muito ágil e precisa, com grande correção gramatical, apesar de 3 pequenas falhas encontradas para as quais, aqui faço um parêntesis para apresentá-las, colaborando assim com a editora: – 1. a palavra “parece” separada por um hífen na última sílaba (in posição 564-5); 2. o início de uma frase com letra minúscula (in. posição 974-9) e 3. denominação do “Mercado de São José” como “Mercado São José” (in posição 1164-11 no cap. 9). À exceção da segunda, as outras, são falhas que nem chegam a ser falhas, especialmente a terceira. Certamente, o tradutor não é recifense, para saber como é chamado, o famoso mercado do bairro de São José. Nenhum recifense, de qualquer classe social, falaria “Mercado São José“. Evidentemente, essas falhas não maculam, de forma alguma, o livro. São falhas resultantes de meras distrações.

Obs. – A localização das falhas, está como apresentadas, pois minha leitura foi em e-book da Amazon onde, não há páginas e sim posições.

Fechando o parêntesis, Alberico Cruz é testemunha de um assassinato de um sindicalista, até então desconhecido, logo no início da narrativa e é, injustamente confundido com o assassino pela polícia, que após bater demasiadamente nele,  joga-o numa cela da delegacia, abarrotada de prisioneiros que o seviciam.  Os assassinos, dois homens, de quem Alberico sai fugindo para não ser morto, ficam incógnitos até quase o final do livro. As pistas, só aos poucos, vão sendo elucidadas.

Kelbian Carvalho,  é o chefe de pessoal da plantação de cana dos Carvalho, tradicional família de Quipapá, cujo cabeça, Moacir Carvalho, teve três filhos: Orlando, Kelbian e Tiago, este último, bastardo. Orlando, o mais velho, era estudioso, afastou-se de Quipapá para estudar no Rio, e lá morava. Concluíra o curso de Administração, e era dono de uma rede hoteleira, que conseguira expandir a partir de um pequeno hotel, que recebera de presente do pai. Kelbian, vivia sonhando, junto com Tiago, em serem milionários a partir de uma mina de ouro, que exploravam às escondidas do velho e, aparentemente, não tem nenhuma ligação com o assassinato do sindicalista que Alberico testemunhara.

O livro é muito bem escrito, os personagens são muito bem construídos, a narrativa é ágil e agradável, os cenários são de uma fidelidade impressionante, e a história é muito gostosa de ler.  Concluí a leitura em prazo recorde – dois dias.

A descrição das torturas e angústias vividas por Alberico, por exemplo, são de uma fidelidade e clareza marcantes.  O leitor, parece estar vivendo, junto com o personagem, aquelas angústias, e fica torcendo, pra que tudo acabe logo. Ao mesmo tempo, fica querendo descobrir quem está realmente envolvido em toda aquela teia que, a princípio, sequer desconfia que exista. É fascinante, à medida que se vai virando a página, descobrir novas informações, conhecer outros personagens, encontrar novas paisagens.

O que é, até certo ponto de estranhar, é que o autor é um francês! Embora com uma tradução quase perfeita de Fernando Scheibe, é o autor, quem consegue emprestar aos personagens, a verdadeira cara do povo pernambucano e, trazer para o cenário mundial, já que o livro foi, originalmente, publicado na França (título original – “L’Or de Quipapá: conte noir“), as mazelas de Pernambuco, sem o fazer através das caricaturas da Rede Globo, por exemplo.

Recomendo enfaticamente a leitura deste livro que mereceu quatro estrelinhas. E para quem gostar de romances policiais, certamente terá boas surpresas.

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