Em cima do rastro [Livro]
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Minhas verdades através dos livros
- Tags: crônicas, Maria de Lourdes Ferraz, poesias
Em cima do rastro, Maria de Lourdes Ferraz e outros, Martírios Edições, PE, 1976.
Washington Luiz Martins, Marília Valente, Raimundo Ferreira da Silva, Maria de Lourdes Ferraz e Pedro de Albuquerque são cinco amigos que se juntaram para publicarem um livro. Reuniram seus trabalhos em um único título – Em cima do rastro – e publicaram esta obra que tem o seu valor pelo esforço e iniciativa dos autores e pela determinação em editarem este livro, como dizem eles próprios no prefácio, “A semente que estamos lançando encontrará terreno fértil em todos os e corações livres e jovens como os nossos.” O livro, porém, não tem uma unidade. Trata-se apenas de uma junção de trabalhos de cinco autores que estavam, na ocasião, iniciando suas carreiras literárias, com exceção de um deles, segundo a breve biografia apresentada de cada um, no início de cada obra.Washington Luiz Martins, é o autor de “Poetização“, obra de apenas 14 poesias que se distribuem em breves 15 páginas e, é o único do grupo que já havia publicado um livro. Um trabalho bonito, com sensibilidade e amor mas, ainda muito rudimentar, sem muita maturidade. Obra de um iniciante bem intencionado, sem grandes poemas. Nada de extraordinário. É o primeiro nome na capa mas, o derradeiro a escrever no livro.
Marília Valente, poetisa com apenas 19 anos na época do lançamento, a quem coube iniciar o livro. É a autora de “Eu vivo“. Não fica evidenciado, o critério usado pelos autores para esta distribuição de privilégios. Tem uma poesia leve, branda, e uma bonita mensagem. Suave.
Raimundo Ferreira da Silva, é o autor de “Naturalmente“, o único dos trabalhos em prosa. O mais velho dos cinco, tem um trabalho consistente. Fala do êxtase, de etiqueta, orgasmo, acaso de viver… Uma mensagem densa e de grande conteúdo. Ele fala de sentimentos, sensações, reflexões, inquietações.
Maria de Lourdes Ferraz, em 14 poesias, exprime os seus “Caminhos” num trabalho bonito e sensível, onde ela fala de amor, traição, desejos, lembranças, cotidiano. A poesia de Lourdinha não tem também uma unidade. Está esparsa, nos 14 poemas apresentados, que foram construídos de forma aleatória. Não tem também uma corrente poética que ela siga ou se baseie. A sua poesia, tem uma rima algumas vezes quase inexistente, e com versos, às vezes, muito longos, o que a torna um pouco cansativa. Para uma iniciante, era o melhor que podia fazer mas, hoje, não vejo mais com os mesmos olhos. Na época, achei seus versos belíssimos, quando fui ao lançamento do livro no dia 10 de setembro de 1976. Hoje vejo muitas falhas que na época não enxergava mas, isso evidentemente, não desmerece o seu trabalho. Seus “Caminhos“, hoje certamente mais floridos, mais abertos e, que levam, a recantos mais belos e mais encantadores que os daqueles tempos conduziam. “Em cima do rastro” é, sem dúvida, para ela e os demais amigos, um marco.
Pedro de Albuquerque escreveu “Na marra!” Ao que tudo indica, esta obra só saiu às custas de muita luta, muito empenho, muito desgaste. São apenas seis poemas, distribuídos em nove páginas que se expremem para que não se perca a sua dor. Celebra a ausência, exalta a falta. Talvez o único que tenha uma unidade na sua obra, neste trabalho apresentada.
Aparentemente, o único objetivo da junção deste trabalho foi o barateamento da publicação que, provavelmente, se fosse feita isoladamente por cada um, seria mais dispendiosa. “Em cima do rastro” não pode ser encontrado nas livrarias. Foi uma obra artesanal e, tem seu valor pela ousadia e determinação de seus criadores. É também o registro de uma época.
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