As brumas de Avalon – vol. 2 [livro]
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Minhas verdades através dos livros
- Tags: As Brumas de Avalon, Grande Rainha, Lancelote, Lendas, Marion Zimmer Bradley, Morgana, Rei Arthur
As brumas de Avalon
Livro 2 – A grande rainha – Bradley, Marion Zimmer, Nova Cultural, SP, 1989, 284 p.
Tradução – Waltensir Dutra
Por ser uma sequência, desaconselho a quem não leu ainda o primeiro volume, a ler este texto.
O volume 1 termina com a coroação do rei Arthur mas, antes disso, Viviane provoca um encontro entre o jovem Arthur e sua irmã mais nova Morgana, sem que eles saibam que são irmãos. Após deitarem no mesmo leito e gerarem um filho deste incesto, no ritual da Corrida do Gamo, Morgana descobre que o filho que carrega na barriga era fruto de uma relação incestuosa com o Gamo-Rei, ocorrida na cerimônia do Grande Casamento, e fica abalada sua relação com Viviane e ela se afasta de Avalon. Naquela cerimônia, ela fora escolhida para ser a Grande Caçadora e a noiva do Galhudo, o Gamo-Rei, que foi, seu irmão, Arthur, abençoado pela Grande Mãe.
Diferentemente do primeiro volume, onde Morgana foi o personagem de destaque, neste quem figura como personagem principal é Guinevere, isto é, Gwenhwyfar, que no primeiro volume, tem apenas, uma rápida participação. Ela era filha do rei Leodegranz e estava prometida a Arthur como esposa para tornar-se a Grande Rainha. É muito católica, chegando mesmo a ser fanática. Também são importantes as participações de Arthur e Lancelote. Não recordadava, pois li estes livros há muito tempo, mas agora, ao relê-los para fazer estas resenhas, lembrei que não é apenas um triângulo amoroso que existe na trama mas, dois. Um entre Lancelote, Arthur e Guinevere e o outro entre Lancelote, Morgana e Guinevere. Lancelote e Guinevere figuram nos dois triângulos. Se Lancelote fosse o principal personagem, ele seria o pivô de dois relacionamentos amorosos, um com Guinevere e outro com Morgana mas, como a trama é uma visão feminina dos fatos, evidentemente, quem é o pivô é Guinevere e, embora isto não esteja explícito na história, não há como negar que se é Guinevere o pivô e, assim sendo, ela divide Lancelote com Arthur e com Morgana e, é óbvio, que isto só poderia acontecer, havendo uma relação homossexual entre Arthur e Lancelote. Embora isto não seja dito de forma explícita, o tema é abordado e mesmo, admitido por Lancelote.
Bem, mas vamos ao que interessa. Este volume começa com uma conversa entre Morgana e Morgause. Após ter se afastado de Avalon no final do primeiro volume, Morgana vai morar com a tia Morgause que, a esta altura, estava casada com o rei Lot em uma região distante, ao norte da Bretanha, e com 4 filhos. Na conversa, Morgause termina descobrindo, ao usar o recurso da Visão, que o filho de Morgana é também de Arthur e, portanto, ele era descendente direto do trono e, termina convencendo Morgana a deixá-lo com ela para que o criasse. Evidentemente, isto com interesse em tirar proveito da descendência do menino.
Lancelote era o primeiro cavaleiro e melhor amigo de Arthur e Guinevere estava apaixonada por ele, desde o dia em que o encontrou quando estava perdida nas brumas de Avalon e ele, juntamente com Morgana, lhe ensinaram o caminho de volta para casa. Após a morte de Uther, ainda no primeiro volume, Igraine vai para um convento, embora Viviane tenha lhe oferecido um lugar em Avalon onde ela ficaria perto da filha Morgana mas ela, recusa dizendo que aquilo não seria apropriado a uma rainha católica. Neste volume, Arthur, juntamente com Merlim e um bispo, vão visitar Igraine no convento aonde ela está morando. É muito interessante na sequência dos fatos, os diálogos em que Merlim participa. Ele sempre rebate as insinuações tolas dos católicos e suas respostas sempre são repletas de sabedoria. É o que acontece, por exemplo, neste encontro citado que a seguir transcrevo.
Artur continuou:
– Senhora, este é Patrício, arcebispo da ilha dos Padres, hoje chamada de Glastonbury, que chegou recentemente.
– Sim, por vontade de Deus – disse o arcebispo -, expulsei recentemente todos os magos malignos da Irlanda, e venho para expulsá- los de todas as terras cristãs. Encontrei em Glastonbury padres corruptos, que toleravam entre eles até mesmo o culto em comum com os druidas, o que teria provocado em Nosso Senhor, que morreu por nós, lágrimas de sangue!
Taliesin, o Merlim, disse com sua voz suave:
– Ora, então o senhor seria mais rigoroso do que o próprio Cristo, irmão? Pois ele, ao que me lembro, foi muito censurado por se juntar aos párias e pecadores, e até mesmo coletores de impostos, e com mulheres como Madalena, quando preferiam que fosse um nazareno como João Batista. E por fim, ao agonizar na cruz, prometeu ao ladrão que naquela mesma noite estariam juntos no Paraíso, não?
– Acho que muita gente se julga capaz de ler as Escrituras, e incide em erros como esse – disse Patrício, secamente. – Os que se presumem sábios aprenderão, é o que espero, a ouvir seus padres para as interpretações verdadeiras. O Merlim sorriu suavemente:
– Não posso participar desse desejo, irmão. Também eu acredito ser a vontade de Deus que todos os homens devam procurar a sabedoria em si mesmos, e não recebê- la de outra pessoa. As crianças talvez precisem de alguém para lhes amassar a comida, mas os homens podem beber a sabedoria sozinhos.
– Vamos, vamos! – interrompeu Artur com um sorriso.
Notem a sutileza do Mago. Ele esbofeteia com luvas de pelica. É genial.
Guinevere é um personagem insuportável. Creio que, nem mesmo os católicos a aguentam. Tudo pra ela tem que ser dedicado a Cristo e, a mulher, deve ser sempre recatada, submissa e mesmo, amedrontada com os castigos que poderão advir por causa do pecado. A mulher é a causadora do mal no mundo em virtude do seu pecado original. Ela é a causa de todas as desgraças. É um ser inferior e, por isso, ela sempre se sentia diminuída e, frente a Morgana, que era livre e poderosa, ela sentia-se menor ainda e, por não poder gerar um filho para Arthur e não ter o amor de Lancelote que dedicava-se muito mais a Morgana, ela sentia muito ódio dela.
É um livro excelente e que recomendo a todos lerem. Não façam, por favor, como uma pessoa de quem li uma resenha sobre este livro, que disse ter detestado o livro porque tinha odiado Guinevere. O livro e o personagem não se confundem. Na minha visão, um livro é tanto melhor, quanto melhor o autor conseguir retratar seus personagens, suas paisagens, sua trama. Se ela odiou tanto assim um personagem, ainda que seja o personagem principal, ela só está atestando a capacidade da autora de ser uma boa escritora.
O melhor de A Grande Rainha é o conflito entre o cristianismo, representado por Guinevere e a antiga religião pagã, representada por Morgana. Os diálogos são imperdíveis. Os antagonistas são perfeitos! Bradley consegue retratar dois personagens extremamente opostos de forma muito clara e convincente. Você irá, a cada página lida, ficar mais ansioso para concluir a leitura. E, ao final, só lhe fará desejar mais ainda ler o restante da história nos outros dois volumes.
Leia também, as críticas dos outros livros. Clique nos links abaixo. (Caso não haja link é porque ainda não foi escrita a crítica correspondente ao título)
- Livro 1 – A Senhora da Magia
- Livro 3 – O Gamo-Rei
- Livro 4 – O prisioneiro da árvore
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