Madame Curie – Mervyn LeRoy [Filme]
Ciência versus Cinema – Madame Curie
Pode o cinema ajudar a ciência? E esta, tem ligação com o cinema?
A experiência de um professor de Física
Quando iniciei minha carreira profissional, eu o fiz como professor de Física de uma Escola Técnica Federal. Este foi o esteio do que seria a fonte provedora de sustento de minha vida. Desse modo, poucos anos depois, me tornei o responsável por organizar um laboratório de Física que modificou minha visão de mundo.
Até então, a Física, assim como o conhecimento em geral, era árido e vazio. Não tinha um sentido mais concreto, palpável. Mas quando comecei a enxergar a Física como uma ciência experimental, tudo ficou mais prazeroso. Não que não tenha tido contato com a Física experimental na faculdade. Muito pelo contrário. Onde estudei, no Instituto de Física da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, era um dos mais renomados Institutos de Física do país.
Física – A natureza do simples
Mas organizando o laboratório, eu estava “com a mão na massa”. E uma coisa que dizia muito aos meus alunos, era que a Física estudava a “Natureza do Simples”. Os experimentos do laboratório mostravam isso. A Física “não é complicada“, “não é o bicho de sete cabeças” que pregam por aí. Desse modo, a Física está no nosso dia-a-dia, explica cada acontecimento.
Por conseguinte, agora, vendo este filme, revivi um pouco dos momentos maravilhosos que experienciei. Estes ocorreram afinal, ainda no início de minha longa carreira como professor de Física.
Cientistas notáveis
Madame Curie foi notável cientista, que se destacou na ciência, e entrou para a história como célebre cientista, assim como tantos outros, a exemplo de Albert Einstein ou Stephen Hawking, para citar também alguém dos dias atuais. Sobre este último, há duas postagens aqui no blog falando sobre o mesmo. Para consultá-las basta clicar nos links abaixo.
Stephen Hawking
Os jovens que virem este filme, vão, talvez, se encantarem, como eu, naqueles anos em que descobri a Física. Ela, em suma, se apresenta em nosso dia-a-dia explicando determinados fenômenos, que nem todos têm suficiente percepção para explicá-los.
O cinema e sua influência
O cinema, por outro lado, é uma fonte de saberes e de influência em diversos campos da vida. Dentre estes, destacam-se: comportamento, literatura, arte em geral, formação de uma ideia, teorias, etc. Ou ainda, alívio de tensões, tal qual ocorreu, por exemplo, na Segunda Grande Guerra. Nela, o Governo Norte-americano chegou a encomendar a diversos diretores, e/ou roteiristas, filmes para melhorar o astral dos soldados nos campos de batalha. Do mesmo modo, difundir uma ideologia, como foi o caso de Aprendizado para Morte (Disney, 1943). Em alguns casos, espontaneamente, alguns diretores propagaram ideologias nazistas ou anti-nazistas, fazendo aqui meras citações de alguns casos, como foi o filme O Grande Ditador (Chaplin, 1940), ou Casablanca (Michael Curtis, 1942).
Do mesmo modo também, antes mesmo de os norte-americanos criarem filmes tais quais os citados, os alemães foram mestres neste campo. São os casos, por exemplo, Trunfo da Vontade (Leni Riefenstahi, 1935) ou Judeus Süss (Veit Harlan, 1940).
“O cinema foi criado inicialmente, para ser uma forma de entretenimento da população, depois passou a ser comercializado, e gerar lucro, posteriormente, foi usado como meio de propagação ideológica e de alienação das massas, e por último, chegou ao posto de Arte, onde está inserido até os dias atuais.”1
As Artes Clássicas
É o caso da Sétima Arte, como é classificado o cinema dentre as diversas artes conhecidas. E apenas a título de curiosidade, pois eu também tinha isto, e quero satisfazer àqueles que buscam informação. A seguir, em ordem decrescente, uma lista das sete artes clássicas conhecidas, segundo a Academia Brasileira de Arte:
- Arquitetura
- Escultura
- Pintura
- Música
- Literatura
- Dança
- Cinema
Não seria diferente com a ciência. E para demonstrar isso, falarei a respeito de um filme de 1943 – Madame Curie.
Madame Curie (1943)
Filme de 1943, do gênero drama biográfico, dirigido por Mervyn LeRoy. A obra retrata a vida de uma física e química polonesa famosa, logo depois naturalizada francesa, que mereceu dois Prêmios Nobel: o Prêmio Nobel de Física em 1903, dividido com o marido, Pierre Curie e o físico Henri Becquerel, por suas pesquisas conjuntas, sobre o estudo da radiação, e o Prêmio Nobel de Química em 1911, por seu estudo e descobertas a respeito da radioatividade e descoberta dos dois elementos químicos, Polônio e Rádio.
Façanhas de Madame Curie
Maria Salomea Sklodowska nasceu em Varsóvia, Polônia, em 07 de novembro de 1867, e foi a primeira mulher a receber uma cátedra na Universidade de Paris. Além disso, foi a primeira e única mulher a receber o Prêmio Nobel em dois campos científicos distintos. E mais: esta façanha só foi obtida por mais uma pessoa, em toda a história do prêmio até os dias atuais – Linus Pauling, alguns anos mais tarde (1954 e 1962).
Dados técnicos do filme
O produtor do filme foi Sidney Franklin para o estúdio Metro Goldwin Mayer (MGM). Já o roteiro, tem uma característica que, talvez, poucas pessoas saibam, pois não foi creditado. O famoso escritor do não menos famoso romance distópico Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, foi colaborador de Paul Osborn e Paul H. Rameau, no roteiro deste importante longa biográfico. Este constitui-se numa adaptação da biografia escrita por Eve Curie, filha mais nova de Marie, sobre a mãe, portanto, não poderia ter melhores fundamentos.
Direção – Mervyn LeRoy
Produção – Norte-americana
Ano de lançamento – 1943
Duração do filme – 2 horas e 04 minutos
Música – Herbert Stothart
Fotografia – Joseph Ruttenberg
O drama biográfico em tela é emocionante, comovente, digno de figurar entre as melhores obras da sétima arte.
Indicações ao Oscar
Mereceu sete indicações ao Oscar, embora não tenha conquistado nenhuma delas. Lamentavelmente. Foi indicado aos Oscars de Melhhor ator (Walter Pidgeon), Melhor Atriz (Greer Garson), Melhor Direção de Arte e Fotografia em Preto & Branco, Melhor Canção, Melhor Filme e Melhor Som.
O filme inicia com uma aula na Sorbone, famosa faculdade francesa em Paris, na qual, Maria Sklodowska era uma das alunas. Era uma aula de Física com o professor Poirot, e ela, empolgada com uma frase que ele fala sobre “alcançar uma estrela com a mão”, desmaia. Ou seja, interrompe a aula.
Disparidade entre homens e mulheres no Nobel
Até o ano de 2020, 873 homens receberam o Prêmio Nobel contra apenas 57 mulheres num total de 68 prêmios.2
Diálogos do filme
Posteriormente, discutindo sobre a dúvida sobre qual seria a sua tese de doutorado, numa conversa entre Marie e Pierre, após ela expor suas ideias lhe diz: “Estou sendo insensata.
E ele lhe responde:
“- Algumas das grandes realizações na ciência vieram graças à insensatez. Quando se dá uma explicação de algo e todos aceitam, pode haver uma pessoa em algum lugar que não se conforme, que diz instintivamente “Eu não estou certo de que esta é uma explicação suficiente. Talvez haja algo além disso.” Isso é insensatez Marie.”
Ela conclui que não era essa pessoa, e que não saberia por onde começar.
Mas logo após voltar de sua lua-de-mel, a primeira coisa que faz é ir para o laboratório estudar aquelas rochas aparentemente inertes, que Becquerel havia mostrado que irradiavam continuamente, mesmo sem nunca terem recebido qualquer luz do sol. Ela queria saber de onde vinha aquela energia. E foi o que lhe rendeu seu primeiro prêmio Nobel, pela descoberta e isolamento do elemento Rádio, após anos de intensas pesquisas e trabalhos desgastantes junto com o marido.
O absurdo da desvalorização feminina
Além das inúmeras riquezas científicas do longa, ele apresenta também algumas situações, diria até ultrajantes, acerca da condição da mulher naqueles tempos. Nos idos dos últimos anos do século XIX. Não são mencionadas datas ao longo do filme, mas as experiências que culminaram com a descoberta do Rádio ocorreram nos anos entre 1897. Logo, quando o casal foi convidado por Becquerel para ver o fenômeno que ele acabara de descobrir. E é 1903, ano em que ele, juntamente com Marie e Pierre Curie receberam o Prêmio Nobel pelas pesquisas.
Foram estas experiências que motivaram Marie a desenvolver suas pesquisas, e elas sim, foram o verdadeiro motivo do prêmio.
Entretanto, ao solicitarem à instituição para a qual trabalhavam, um laboratório para o desenvolvimento desta pesquisa, o corpo diretivo da mesma negou-lhes o pedido. Justificaram a negativa, dizendo que as provas oferecidas, da existência desse novo elemento, o Rádio, eram insuficientes. Além disso, ela era “uma mulher”. E não disseram claramente, mas ficou subentendido que o que estava sendo dito era: “ela era uma mulher, e portanto, não tinha capacidade de elaborar nada digno de confiança a nível científico.” Ponto que foi imediatamente contestado, veementemente, por Pierre, que ficou indignado. Ao final, o que receberam foi um galpão abandonado, em condições precaríssimas e sem nenhum equipamento. Como resultado disso, eles tiveram uma enorme dificuldade, e só por amor à ciência de ambos, conseguiram prosseguir.
Apoteose do filme
Ao final, a apoteose do filme, é o discurso dela, à frente de uma enorme plateia. No auditório da Faculdade de Ciências da Universidade de Paris, vinte e cinco anos depois da descoberta do Rádio o auditório lotado a aplaude.
Mas ela não ficou apenas neste Prêmio Nobel. Ela ganhou dois! E foi a primeira e única mulher no mundo a conseguir tal façanha. Acima de tudo, ela foi durante vários anos, a única pessoa que conseguiu isto.
Versões desta notável personalidade histórica – Madame Curie
Além desta versão de 1943, o cinema já lançou várias versões baseadas na vida desta notável personalidade histórica. Cito abaixo algumas dessas versões.
Em 2014 foi lançado o filme francês Marie Curie, com direção e roteiro de Alain Brunard.
Em 2016 foi lançada uma versão polonesa também com o título de Marie Curie, numa coprodução com Alemanha e França, além da Polônia, claro, sob a direção de Marie Noëlle.
E neste ano de 2021, surgiu a versão disponível no Netflix Radioactive, que de forma muito superficial, toca na biografia de Madame Curie, sem se aprofundar em fatos relevantes da história, preocupando-se muito mais com detalhes romanescos da vida dela.
Fontes
1 – – A História e o Cinema; o Cinema como Agente Histórico e Mecanismo de Representatividade e Educação disponível no link acima e consultado em 25/08/2021
2 – O Nobel 2020 e a histórica desigualdade de gênero do prêmio – Ciência na Rua (ciencianarua.net) consultado em 25/08/2021