Pixinguinha, um homem carinhoso – Denise Saraceni [Filme]
- By : Alberto Valença Lima
- Category : Minhas verdades através dos filmes
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Pixinguinha – Alfredo da Rocha Viana Filho
Pixinguinha, apelido como ficou conhecido Alfredo da Rocha Viana Filho, que todos sabem foi um grande músico e compositor brasileiro que viveu no século passado. Nasceu no finalzinho do século XIX no Rio de Janeiro no dia 23/04/1897 e faleceu na igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, no dia 17/02/1973, em plena manhã do sábado de carnaval.
A Banda de Ipanema, na época muito famosa, estava desfilando pelas ruas em Ipanema naquele dia sob a batuta de Albino Pinheiro, que tomando conhecimento do fato, conduziu a banda até a frente da igreja tocando uma versão de Carinhoso, música mais famosa de Pixinguinha. Foi uma linda homenagem.
O filme biográfico sobre Pixinguinha
Neste último fim de semana, (Dia 14/01/2022, sexta-feira), assisti ao filme “Pixinguinha, um homem carinhoso” dirigido por Denise Saraceni, estreante no cinema, embora famosa na TV, e codirigido por Allan Fiterman. Protagonizado por Seu Jorge no papel-título e Taís de Araújo como Albertina, sua esposa.
O filme é uma verdadeira poesia, e por esta razão o estou comentando aqui. Primeiro porque ele era um poeta. E que poeta! Depois, porque o roteiro do filme é poético, a vida dele foi poética e o filme é biográfico.
Se você não conhece detalhes sobre a vida deste monstro da música brasileira, recomendo com ênfase que você assista a este filme. E se você conhece, recomendo ainda mais, pois você vai se deleitar com os detalhes do filme. É realmente, emocionante!
Não quero contar detalhes, para não estragar a surpresa de quem não conhece ainda os pormenores sobre a vida do famoso compositor. Em suma, não quero fazer spoiler como o que já fiz no início falando sobre a morte dele. Mas, na verdade, este não foi propriamente um spoiler, pois todos sabem que ele já morreu. Não é novidade pra ninguém.
A seguir, um vídeo de uma de suas composições mais famosas – ROSA, durante muito tempo apenas orquestrada. A música foi composta em 1917 com o título original de Evocação. Só gravada em 1937, vinte anos depois pelo maior intérprete brasileiro, Orlando Silva.
A polêmica sobre a letra de Rosa
Esta música, supõe-se que recebeu letra do desconhecido Otávio de Souza, mecânico do bairro carioca Engenho de Dentro. Autor de uma única obra que é uma verdadeira obra-prima. Por conta disto, muitos estudiosos a atribuem ao compositor Cândido as Neves, autor de várias composições românticas e rococós. O fato é que existe uma incógnita quanto a esta autoria.
Não encontrei registros da data da letra da música, mas isso só aconteceu cerca de vinte anos depois da sua criação por Pixinguinha pois a gravação por Orlando Silva aconteceu em 1937. Um disco de 78 rotações com Rosa em um dos lados, e Carinhoso no outro. E foi por causa desta última música que Carlos Galhardo e Francisco Alves, famosos cantores da época, se recusaram a gravá-la.
A seguir, a belíssima letra que só foi incluída na música, depois imortalizada por Orlando Silva.
ROSA
De: Pixinguinha e Otávio de Souza
Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral. Oh, alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos dolentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
* És láctea estrela
** És mãe da realeza
*** És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor, meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Comentários sobre a letra da música
Note que a letra é muito rebuscada e de vocabulário erudito, com muitas metáforas, ênclises, hipérbatos e metonímias, com uma construção em segunda pessoa, o que é uma linguagem relativamente rara. E algumas construções de uma beleza ímpar tais como:
-
- Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
- Que na vida é preferida pelo beija-flor
- Tu és de Deus a soberana flor
- Jurar, aos pés do onipotente
No final, o Eu Lírico diz que em algum dia irá levá-la ao altar, e jurará a Deus, em preces comoventes, receberá a unção da gratidão da amada, livrará da condenação, os seus desejos, libertando a amada do seu fim.
- Estátua majestosa do amor
Dados técnicos do filme
Produção – Brasileira
Direção – Denise Saraceni e Allan Fiterman
Ano de lançamento – 2021
Fotografia – Colorida
Duração – 1 hora e 41 minutos
Elenco e personagens
Seu Jorge …………………………. Pixinguinha
Taís Araújo ……………………….. Albertina
Milton Gonçalves ……………. Alfredo Vianna
Danilo Ferreira ………………… Pixinguinha (jovem)
Lilian Waleska ………………….. D. Raimunda
Tuca Andrada …………………… Almirante
Agatha Moreira ……………….. Gabi
Klebber Toledo ………………… Guinle
Pierre Baitelli ……………………. Radamés Gnatalli
Jarbas Homem de Mello .. Duque
Jhama ………………………………. Donga
Pretinho da Serrinha …….. Otávio Vianna “China”
Luis Barcellos …………………. João Pernambuco
Sinopse do filme
Segundo o site do Telecine, o filme trata sobre a vida e obra de Alfredo da Rocha Vianna Junior (1897-1973), o Pixinguinha, pai da MPB. Gênio incompreendido e muito à frente de seu tempo, só teve sua importância reconhecida muitos anos depois.
A vida do famoso músico, menino negro de classe média baixa é contada desde suas primeiras performances antológicas com a flauta; à composição de suas muitas obras-primas, dentre as quais “Carinhoso” o verdadeiro hino popular brasileiro, que fez 100 anos em 2017; sua temporada de 6 meses em Paris em 1922 com o retumbante êxito de seu conjunto “Oito Batutas”; seus arranjos como primeiro diretor musical para a RCA Victor americana nos anos 30, sua decadência e ressurgimento nos anos 40; sua consagração nos anos 60 pelas mãos das novas gerações da bossa nova e do jazz; e sua morte na igreja N. S. da Paz no Rio de Janeiro em pleno carnaval de 1973.
Minha opinião sobre o longa
Pelo que li dos críticos a respeito deste longa, houve um “passar por cima” de muitos fatos relevantes da vida de Pixinguinha. Ele foi alcoólatra e esta obra toca só ligeiramente no assunto. Esconde também muitos defeitos que desconheço sobre o notável músico. Nunca tinha lido nada sobre ele. Então não posso fazer juízo de valor. Não sei se são verdadeiras as colocações feitas pelos críticos. Precisaria ler algum material de relevância e creidibilidade para ter uma opinião formada. Não encontrei isso a não ser com um valor elevado (R$ 200,00) por um livro biográfico de autoria de Sérgio Cabral. Há obras de menor custo mas não tão relevante em termos de credibilidade. Poderia até consultá-la, mas precisaria compará-la com outras. Não vou me dar a este trabalho.
Mas na minha opinião, o filme é muito bom. Traz uma história sobre o Rei do Choro, que eu acredito tenha alguma relevância de credibilidade.