Direção – François Ozon

Assisti a este filme na pré-estreia no Cine Rosa e Silva no dia 18 de julho de 2015. Aconteceu uma coisa interessante nessa semana. Há algum tempo que não ia ao cinema e, em 4 dias, assisti a quatro filmes, sendo um em cada dia. Na quinta-feira, dia 16 assisti a Cidades de papel, na sexta fui ver Samba, no sábado fui à prè-estréia de Uma nova amiga e no domingo vi O que as mulheres querem. Foi uma quase maratona.

Este longa é uma adaptação do livro ‘The new girlfriend‘ da escritora inglesa Ruth Rendell, que já teve outros romances seus adpatados para o cinema como Carne trêmula de Almodovar. Do mesmo diretor de Dentro de casa e 8 Mulheres, Une nouvelle amie é uma inquietante história de homossexualidade e de crise de identidade.

Ao se apagarem a luzes do cinema, vemos uma cena intrigante de uma mulher, Laura (Isild Le Besco), sendo maquiada e vestida de noiva dentro de um caixão. Há um corte e aparece Claire (Anais Demoutier) fazendo um discurso para as pessoas que estão no velório, que conclui dizendo que cuidaria da filha e do marido da amiga. Durante o discurso, surgem cenas de memória (flashbacks) das duas amigas no passado, desde a infância até os dias atuais. O espectador tem, então, a exata visão do homossexualismo de Claire que, no entanto, estava casada com Gilles (Raphael Personnaz), enquanto Laura, havia se casado com David. Tudo isso, ficamos sabendo nos flashbacks. Começa então o filme.

Impossível fazer uma crítica sem spoiler para este filme. Li em algum lugar, que tinha gente que considerava spoiler até saber a duração do filme. No entanto, qualquer spoiler que se diga, já está nos 15 minutos iniciais do filme. Então…

Bem, o fato é, que havia uma amizade muito próxima, quase simbiótica, das duas amigas e, a morte de Laura, viria trazer um grande vazio para a vida de Claire, apesar de ela gostar muito do marido e de ter com ele uma relação bem satisfatória, não fosse a dedicação a David e à filha recém nascida que ela prometera à amiga no seu discurso no funeral. Claire surpreende-se, ao chegar na casa de Laura numa manhã, e encontrar uma mulher loira embalando a bebezinha. Mas, ao falar com ela, descobre que se tratava de David, vestido de mulher. Ele lhe pede segredo e diz que já fazia aquilo desde quando eram casados, mas tinha parado. E que Laura sabia, mas agora, depois que ela morreu, voltou a sentir esse desejo de forma muito intensa.

Daí em diante, acontece um romance entre Claire e sua “nova amiga”, Virgínia, que ela mantem em segredo a pedido de David. Há aí um duplo conflito que Ozon explora de forma magistral e, com dois talentosíssimos atores: Romain Duris e Anais Demoustier, que dão um show à parte de interpretação. Duris, nas alternâncias entre David e Virgínia, seus conflitos e sua crise de identidade. Demoustier, com seus desejos e lembranças, e seus conflitos entre amar Virgínia e o marido pois, ambos são homens.

Aqui vale uma ressalva e um esclarecimento. David não é homossexual, como li em algumas críticas que encontrei por aí. David é heterossexual e, durante toda a narrativa, não há dúvida quanto a isso. Em momento algum ele sente atração por homens nem tampouco tem algum relacionamento amoroso  homossexual. O conflito não é sexual, é de identidade, de gênero. Quem tem conflito de sexualidade é Claire, que se vê divida entre seu marido e Virgínia, enquanto mulher mas, choca-se, ao descobrir que ela é um homem.

Uma coisa interessante é que o diretor faz uma pequena ponta no filme como o homem do cinema.

Título original – Une nouvelle amie
Produção – França
Duração – 1 hora e 50 minutos
Ano de lançamento – 2014

Elenco e personagens
Romain Duris como David / Virgínia
Anais Demoustier como Claire
Isild Le Besco como Laura
Raphaël Persoannaz como Gilles
Aurore Clément como Liz
Zita Hanrot como garçonete do restaaurante
François Ozon como homem do cinema

O filme é simplesmente, genial e mereceu quatro estrelinhas.