Perdas e danos – Louis Malle [Filme]

Minhas verdades através dos filmes
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Direção – Louis Malle

Acabo de postar na semana anterior um filme deste consagrado diretor francês, que já causou muitos escândalos. Louis Malle já explorou em seus filmes a pedofilia, o incesto, o suicídio e a liberação feminina. Neste Perdas e danos,  a abordagem é de uma peculiaridade ímpar.

Perdas e danos

Dados técnicos do filme

Produção – França e Inglaterra
Direção – Louis Malle
Roteiro – David Hare, baseado no livro homônimo de Josephine Hart
Ano de lançamento – 1992
Duração do filme – 1 hora e 52 minutos
Gênero – Drama psicológico erótico
Elenco e personagens:
Jeremy Irons como Dr. Stephen Fleming
Juliette Binoche como Anna Barton
Miranda Richardson como Ingrid Fleming
Leslie Caron como Elizabeth Prideaux
Rupert Graves como Martyn Fleming
Ian Bannen como Edward Lloyd
Peter Stormare como Peter Wetzler
David Thewlis como o detetive

Perdas e danos

Perdas e danos (o filme)

É um filme forte! Muito forte! Extremamente forte! Totalmente amoral, mas muito bom. Parece um  contra-senso não é mesmo? Mas, na verdade, o filme é de uma genialidade impressionante. O diretor consegue expressar com beleza um tema tão aviltante como o tratado neste filme.

Desempenhos fabulosos de Juliette Binoche (O paciente inglês e A liberdade é azul) e Jeremy Irons (As palavras e Trem noturno para Lisboa). Esta é apenas uma das muitas virtudes do filme.

Perdas e danosEle é um ministro do governo britânico e ela é a mais recente namorada do filho dele, Martyn. Ela vai a uma festa onde ele estava por obrigação social, acompanhado de um colega de trabalho, e se apresenta a ele. Mas nessa apresentação, insinua-se para ele, como se estivesse hipnotizada pela sua presença. Ele não resiste aos encantos da moça, e os dois terminam em um envolvimento sexual arrebatador.

O  filme é completamente amoral mas muito bom. Infelizmente, não há como tecer comentários mais apropriados se não mencionar cenas que se tornarão spoilers. Então, peço a quem não assistiu ainda ao filme, que não leia o restante desta crítica.

Minha opinião sobre o filme

Considerei o filme quase uma obra-prima. Não se trata apenas de um filme escandaloso mas, de uma obra de arte. O filme é surpreendente. Louis Malle consegue transformar um roteiro simples e banal, apesar de escandaloso, em algo verdadeiramente surpreendente. Mas não fica só nisto. Vai muito além.

Totalmente enfeitiçado por ela, ele começa a perder o controle, e a colocar em risco, o segredo dos dois. Cada vez mais atraído, ele deixa-se dominar completamente. Ele não percebe a loucura que está fazendo mas, chega ao ponto, de ir encontrar com ela num hotel em Paris, onde a mesma estava acompanhada de Martyn, passando um final de semana. A relação dos dois é cada vez mais intensa e avassaladora.

Perdas e danosA foto acima é a última cena do filme. Ele em frente a uma foto ampliada que o filho lhe dera, onde estão ele próprio, o filho e Anna, a namorada do filho. É uma foto tirada num final de semana, que eles passam juntos na casa do avô de Martyn. Observa-se, no olhar de cada um, as aspirações, desejos e segredos íntimos.

Anna tem um olhar perdido, vago, indefinido, mas não sabe com quem ficar. Nem sabe se fica com o amor de Martyn, nem com a atração sexual por Stephen (o pai de Martyn). Stephen, por sua vez, olha para Martyn, talvez indignado pela presença do filho ali atrapalhando o seu romance com Anna, mas ao mesmo tempo nutrindo por ele o amor de pai. Martyn olha para Anna apaixonado, sem sequer supor sobre o romance que a namorada mantem com seu pai. Mas é o único que tem um sentimento puro, verdadeiro.

Destaques

Mas de todas as cenas do filme, a que me marcou mais foi a reação da esposa de Stephen quando ele volta para  casa depois que é descoberto o relacionamento entre ele e Anna. Ela lhe pergunta ao tirar a roupa: Isto (desnudando os seios) e isto (tirando o resto da roupa) não foram suficientes para você? Por que você não se suicidou quando tudo começou? E extremamente chocada, lhe diz que até tinha pensado em ter uma relação sexual com ele. Mas agora, o desprezo era total. E sentencia: “Que pena que nos conhecemos.”

Há uma outra coisa a destacar no filme que explora apenas o lado sexual dos dois amantes (Anna e Stephen). Não há nenhum envolvimento emocional entre eles. Isso fica patenteado desde o primeiro momento onde os olhares são reveladores mas , não há nenhuma palavra ou, quando há, são pouquíssimas. O silêncio é marcante em todos os encontros entre eles. O filme mereceu quatro estrelinhas.


Esta cena acima ocorre quando Martyn anuncia o seu casamento com Anna. Stephen derrama a taça de vinho manchando a toalha branca de vermelho, numa clara previsão do que iria acontecer.

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Olá Alberto! Obrigada pelo seu comentário no meu blog Rotina Reversa no post que fiz sobre o filme Perdas e Danos.
Obrigada também por me recomendar este seu texto, achei muito interessante sua análise quanto aos olhares dos três personagens na foto que brilhantemente encerra o filme, visto que no meu texto eu também fiz a análise desses olhares, mas de forma diversa, pois, por óbvio, somos pessoas diferentes e nossa história de vida e nossos próprios pensamentos modificam nosso modo de interpretar as obras de arte que consumimos. Uma terceira pessoa teria um terceiro olhar sobre a mesma cena, e assim por diante, e acho isso fantástico! Mostra como o poder de uma boa obra de arte nunca tem seu poder esgotado, graças à grandiosa forma de despertar tantos sentimentos e reflexões diversas sobre uma mesma cena ou fala de um personagem.
Parabéns pela análise e pelo blog!

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