As esganadas - Jô Soares
Minhas verdades através dos livros
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Jô Soares – As Esganadas

Jô Soares foi um dos homens mais inteligentes e notáveis que conheci. Não, não o conheci pessoalmente. Mas era um assíduo telespectador de seus programas de entrevistas na TV. Posteriormente, passei a conhecer o seu lado de autor lendo “O Xangô de Baker Street” e vendo também o filme. Não recordo mais qual eu vi primeiro. Fiz inclusive uma crítica aqui neste blog. Acima, o link caso você tenha interesse em conhecer. Foi postado em novembro de 2018.

Candidata a vítima do Serial Killer

Jô Soares foi um grande entrevistador e, estou descobrindo com a leitura de seu último livro – “O livro do Jô – Uma autobiografia desautorizada”, que ele foi muito mais que genial. Criava personagens com maestria, explorando cada detalhe, descreve os cenários com uma perfeição impressionante. Em alguns casos, chega até a cansar de tantos detalhes. Foi um comediante como poucos. Um grande destaque na cultura brasileira.

As Esganadas
Outra candidata a vítima

Enredo de As Esganadas

A história acontece na década de 1930. Mais precisamente, no ano de 1938, embora sejam mencionados fatos do início dos anos 30. Então, é muito interessante ele descrever fatos do Estado Novo, com detalhes minunciosos do Rio de Janeiro, na época, capital da República no livro. Vedetes, corridas das “baratinhas” na Gávea.

As Esganadas
Mais uma candidata a vítima

E como autor ele foi também genial. Depois de ler, além deste “As Esganadas” que foi o seu penúltimo livro, e também, como já mencionei acima, “O Xangô de Baker Street”, li também, depois de ler este que agora escrevo sobre ele, “O Homem que Matou Getúlio Vargas” e “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” que em breve farei também os comentários.

Semelhança com O Xangô de Baker Street

Assim como no Xangô de Baker Street, Jô Soares vai buscar o Sherlock Holmes nas páginas dos romances ingleses de Conan Doyle, neste ele traz o personagem central, o detetive Tobias Esteves das páginas da literatura portuguesa do famoso Fernando Pessoa. Mas o leitor não pense que vai se preocupar com a descoberta do assassino, pois um fato interessante nas Esganadas, é que ele é revelado logo nas primeiras páginas, assim como o motivo que o leva aos crimes.

 

O assassino

Caronte, o assassino, é o dono de uma funerária, a mais famosa e luxuosa do Rio de Janeiro que herdara do pai que também herdara de seu pai a mesma funerária que já era famosa, desde quando o bisavô de Caronte fez um conchavo com o governo para enterrar com exclusividade os soldados mortos na guerra do Paraguai. E houve um escândalo que foi abafado de um número de enterros bem maior que o de soldados mortos.

Nada disso é spoiler pois são fatos revelados logo nos primeiros capítulos do livro.

Abaixo se vê um print de tela do livro (eu o li no meu Kindle) do furgão usado  por Caronte na funerária e como ele o adaptou para usá-lo para atrair as suas vítimas através de doces oferecidos gratuitamente na rua.

As esganadas - Jô Soares

A literatura policial tem como característica, o fato de o leitor tentar desvendar a trama, na medida em que os fatos vão se apresentando  nela, até a revelação final. Isso nos enleva, enredando o leitor na trama. Neste caso, como o assassino já é conhecido, a graça está em tentar descobrir o que a polícia vai fazer para chegar ao assassino. E este não  deixa pistas.

No livro, há uma boa dosagem de invenção, erudição  e humor, o que nos prende desde a primeira página. A epígrafe já nos chama a atenção.

Epígrafe e poema que inspirou o personagem principal

Diariamente, a mulher gorda morre uma série de pequenas mortes.” (Shelley Bovey)

Se quiser ler o primeiro capítulo a Cia das Letras oferece a você a oportunidade de fazê-lo. Assim ela acredita que irá atrair para adquirir o livro mais pessoas. As Esganadas – 1º capítulo

Embora não sejam oferecidos alguns detalhes do livro, que só no próprio livro o leitor os encontrará. Mas reproduzi-los-ei aqui como cortesia, pois acredito serem relevantes. Como é o caso desta Epígrafe acima transcrita, ou do poema de Fernando Pessoa “Tabacaria”, que ele assina com seu heterônimo, Álvaro Campos.

Poema “Tabacaria”

“… (Se eu casasse com a filha da minha
lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à
janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco
na algibeira
[das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta)
Como por um instinto divino o Esteves
voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó
Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem
esperança,
e o dono da Tabacaria sorriu.”

Álvaro Campos (Fernando Pessoa)
“Tabacaria”

Minha opinião sobre o livro

Como já mencionei, considerei “As Esganadas” um dos melhores livros do Jõ Soares. Uma pesquisa muito bem feita, criações brilhantes, linguagem clara e adequada ao tempo em que se passa a história, e a genialidade de inovar no romance policial, ao ponto de inverter os valores comuns. O principal é fazer o leitor descobrir logo nas primeiras páginas, não só quem é o assassino, mas também o fator de motivação dos crimes. E mesmo assim ele consegue entreter o leitor até o final. Isso eu achei gential.

Só tem uma coisa, que não chego a dizer que é negativa no livro, mas que diminue um pouco seu valor: é que há várias frases no livro em idiomas diferentes (alemão, latim, francês, italiano) e não consta a tradução nem mesmo em notas de rodapé. Como ele era poliglota, faltava seis línguas ou mais, quer que o leitor também o seja. E isso deprecia um pouco o livro. No mais, é um ótimo livro que eu recomendo muito. E não falo isso por ouvir dizer. Como mencionei acima, já li quase todos os livros do autor. Os únicos que não li ainda, foram seus primeiros livros. Depois de Xangô de Baker Street, eu li todos. E destes, só tem um que ele escreveu sozinho – “O astronauta sem regime”. Todos os demais ele escreveu em parceria, ou  apenas alguns capítulos.

Vídeo do próprio autor lendo seu livro

A seguir você pode ver e ouvir o próprio autor lendo um pequeno trecho do inicio do livro.

 

 

Bibliografia

Os dilemas do Fantasma e do Capitão América (1972) — capítulo no livro Shazam!, de Álvaro de Moya[42]
O Astronauta Sem Regime (1983)
Humor Nos Tempos do Collor (1992)[Com Luis Fernando Verissimo e Millôr Fernandes.]
A Copa Que Ninguém Viu e a Que Não Queremos Lembrar (1994)[Com Armando Nogueira e Roberto Muylaert]
O Xangô de Baker Street (1995)
O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998)
Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005)
As Esganadas (2011)
O Livro De Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Vol. 1 (2017)
O Livro De Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Vol. 2 (2018)

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