Microconto de ouro (2021) – Cândido Luís Vasques (org) [Resenha]

Microconto de Ouro 2021
Minhas verdades através dos livros
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Resenha do livro Microconto de Ouro 2021

A Casa Brasileira do Livro realizou em 2021 um projeto fantástico. O Microconto de Ouro 2021. Infelizmente só este ano vim tomar conhecimento dele.

As inscrições iniciaram em 01 de abril e se encerraram em 16 de maio tendo como definição de microconto um texto com no máximo 300 caracteres, incluídos espaços, pontuação e quebra de parágrafos. As inscrições foram gratuitas e foram premiados os 3 primeiros lugares com valores monetários.

Foi um concurso de enorme sucesso! Foram recebidos pelos organizadores 1.259 microcontos. Destes, foram selecionados 128 semifinalistas, dos quais escolheram 30 finalistas e ao final, apenas 3 vencedores. O primeiro lugar ficou com a escritora Juliane Vicente Lopes com o conto Fantástico à Moterosso, cujo conteúdo vai a seguir:

“E quando acordou, as larvas devoravam seu terceiro olho.”

Em segundo lugar ficou “Não me leve flores” de Mariana Magalhães Bernicchi cujo conteúdo vai a seguir:

“Sinto as plantas. O odor da terra. Cravos crescem. Orquídeas. Rosas vermelhas. Rosas brancas. Onde? Abaixo do solo. Imaculadas. Nutridas pela luz. Dor não sentem. Agonia tampouco. E sem ar? Sufocam. Todas elas. Ou morrem. Uma pena. Vejo-as daqui. Isto é um código. Venha já. Agora leia as maiúsculas.”

Considerei este genial. Bem superior ao 1º lugar na minha ótica.

E em terceiro ficou Rafael Duarte Caputo com o microconto Destino escrito.

“Criou coragem e correu em direção à amada. Quase tropeçou na vírgula despercebida. Pulou várias linhas, invadiu orações, separou sílabas e por pouco não ficou preso entre parênteses. No fim, venceu. Agora, oculto naquele parágrafo inicial, desfruta do amor ao lado da bela Anáfora, sua cara-metade.”

Dados técnicos de Microconto de Ouro 2021

Editora – Cia Brasileira de Livros
Número de páginas – 171
Organizador – Cândido Luís Vasques

Microconto de Ouro 2021

A apresentação do organizador Cândido Luís Vasques é muito bem-humorada. Ele a inicia assim: “O Ministério da Literatura adverte: ler microcontos pode viciar!”. E continua: “É que nem comer amendoim. Não digo que é que nem mascar chiclete, pois chiclete perde o gosto, e o amendoim não. É aquela coisa de se pedir bis, sabe? (…)”

Só não gostei desta expressão “que nem”. É coisa de matuto. Mas no mais, é um ótimo livro. Na verdade, um livro que é um marco na literatura minimalista brasileira.

O livro contém todos os microcontos selecionados, isto é, consta de 128 microcontos, distribuídos nas 171 páginas. Além da apresentação do organizador.

Destaco alguns microcontos do livro

Alguns contos não são propriamente contos, mas outros são simplesmente fantásticos. É o caso, por exemplo, do segundo lugar que já foi apresentado acima e comentado, ou o Encontro Poético, do escritor Giovani Roehrs Gelati, que transcrevo a seguir:
“Quando Gullar lhe disse “Não há vagas”, Drummond indagou se:
– E agora José?
Quintana fez pouco caso:
– Os problemas um dia passarão… eu passarinho.
E Bandeira resolveu a questão:
– Vou-me embora pra Passárgada.”

Ou “Jornada” de Amanda Pereira Santos que abaixo transcrevo também;

“Nasceu, cresceu, morreu.”

Ou ainda, o “Pinóquio Neto” de Angelo Gabriel Cassariego Perusso que vai a seguir copiado.

“Para se adaptar ao mundo digital, Pinóquio Neto teve que se tornar diferente de seu avô: Seu nariz crescia quando postava a verdade.”

E finalmente, para não reproduzir a maior parte do livro, o excelente “Sem enredo” do escritor Luiz Eduardo de Carvalho.

“Ninguém sabia o que fazer.”

É um bom livro que me deu prazer em ler. O que mais lamento é que só agora, quando está prestes a ser lançada a quarta edição deste projeto é que vim tomar conhecimento dele. Mas no próximo ano, se Deus quiser, estarei participando também.

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