Minhas verdades através dos livros
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Como cheguei até o livro

Este “O Maravilhoso Bistrô Francês” me chegou às mãos despretensiosamente. Ganhei-o de presente de uma pessoa querida logo após o Natal do ano passado. Ela me disse: “Leia, você vai gostar. É de Nina Goerge, a mesma autora de “A Livraria Mágica de Paris”.”

Comecei a lê-lo há três dias e hoje finalizei. Não foi surpresa pois havia lido o primeiro best-seller dela e o primeiro traduzido no Brasil, no início do ano passado por recomendação de minha esposa, e tinha adorado.

O maravilhoso bistrô francês

Nina George – A autora

Agora, para fazer esta resenha, pesquisei um pouco sobre ela, e descobri algumas coisas, que muitos, provavelmente, não conhecem, como eu, antes disso, também não sabia. Por exemplo, que ela já escreve há muitos anos, que escreve com três pseudônimos, e já vendeu mais de quinhentas mil cópias de “A Livraria Mágica de Paris”, que já foi traduzido para 28 idiomas, e que ela já publicou 26 livros, que já publicou centenas de pequenas histórias, em mais de 600 colunas, que ela é uma escritora alemã, que mora atualmente no sul da França com o marido, Jô Kramer, em Cocarneau, e que a primeira edição do seu primeiro best-seller foi em alemão, sua língua-pátria.

Nina George
Nina Gorge (A autora)

Do que trata o livro

Bem, para não fazer nenhum spoiler que eu detesto, em respeito a quem for ler esta resenha, vou apenas mencionar, resumidamente, sobre o que trata este livro. Marianne, uma alemã sexagenária, casada com Lothar há quarenta anos, que não a amava, nem ela tampouco, e queria desistir da vida. Na ponte Neuf em Paris, tenta o suicídio se jogando no Sena, mas é salva por um pescador ou um mendigo (Não se consegue identificar muito bem) que estava por perto.

Levam-na para um hospital e lá ela encontra um quadrinho pintado num azulejo, uma paisagem de um local à beira-mar, no Sul da França – Kerdruc, que lhe fascina. Ela guarda aquele azulejo e foge do hospital para buscar aquele local antes de consumar seu intento que fora interrompido. Chegando lá, encontra um bistrô – o “Ar Mor” (que em gaulês significa “No Mar”). Neste bistrô ela conhece a maioria dos personagens do livro – Jeanremy, o cozinheiro, Geneviève, a dona do bistrô, Laurine, a garçonete, Alain, a paixão de Geneviève, Colette, uma marchand, Simon e Paul. Estes dois últimos ela conheceu antes de saber da existência do “Ar Mor”. Na verdade, foram eles que o apresentaram a Marianne, mas ambos são ligados ao bistrô e dele, habitués.

O maravilhoso bistrô francês (citação)

Personagens do livro

A personagem principal é Mariane, de quem já falamos algumas coisas acima, e para não dar spoilers, nada mais posso comentar a respeito da mesma.

Mas, é claro, que há outros personagens no livro. Alguns, já mencionados acima, também. Vamos então explorar um pouco estes personagens.

  • Genevieve é a proprietária de um bistrô em Kerdruc. O Ar Mor. Ela é apaixonada por Alain, um outro proprietário de bistrô do outro lado do rio Aven, que separa seu concorrente de si, há trinta e cinco anos. Vale a pena a citação abaixo da página 180. Uma coisa relevante do livro é que a autora explora bem outros dramas paralelos, e é bem marcante seu posicionamento feminista. Há duas passagens no decorrer da história, que deixam bem evidente essa disposição. A primeira é numa conversa entre duas mulheres transcrita abaixo, da página 74. A outra não posso falar nesta resenha, para não fazer spoiler.
  • Jeanremy é o cozinheiro do Ar Mor, perdidamente apaixonado pela garçonete Laurine, que também é apaixonada por ele, mas nem um, nem outro, toma a iniciativa de se declarar. E vivem sofrendo por isso.
  • Colette e Sidonie sentem atração uma pela outra, mas apenas a última tem seu amor às claras. A primeira gosta muito de homens, e não assume sua paixão pela amiga.
  • Yann, um pintor que frequenta a casa de Pascale e Emile, que só pinta quadrinhos pequenos, e vive sendo incentivado por Colette a pintar telas grandes, para que ela pudesse fazer uma exposição com ele em sua galeria, mas ele nunca teve coragem de se aventurar nessa seara.
  • Simon é um pescador que vive no Ar Mor praticamente todos os dias. Vive a esmo em busca de um amor.
  • Paul é perdidamente apaixonado por Rozenn, que o deixou por um homem mais jovem há muitos anos, mas que vive provocando o ex-marido, pois sabe que ele é apaixonado por ela, e sexualmente, eles continuam se atraindo.

Minhas considerações sobre o livro

É neste bistrô, o Ar Mor, que se desenrola a maior parte da história do livro, que não posso contar mais, para não virar spoiler. Além dos personagens citados acima, merecem ainda destaque, Pascale e Emile, um casal de idosos, que vive numa casa no meio da floresta. Ela é uma ex-aeromoça da Lufthansa, que está com problemas de demência senil, e ele um homem já com mais de setenta que sofre de Alzheimer. Os dois vivem eternamente apaixonados, apesar das idades e do tempo que vivem juntos.

Mas se trata de um livro encantador, embora no início um pouco cansativo. O livro é um misto de romance, questionamentos existenciais, erotismo, sensualidade, amor, paisagens com descrições maravilhosas, beleza, poesia, muito de fantasia e folclore da Bretanha como Avalon, Morgana, Merlin e outras lendas e personagens como druidas, fadas, duendes, deusas, sacerdotisas, feiticeiros, bruxas….

Kerdruc
Visão do do rio Kerdruc

A visão de outras pessoas sobre o livro

Uma coisa interessante que preciso comentar aqui, é que algumas “adolescentes” (talvez de vinte e poucos anos), tanto no Skoob como em resenhas em blogs, que li para poder fazer essa postagem, tiveram uma visão bem distorcida do livro. Primeiro escreveram que uma coisa inusitada: que o livro era com os personagens, na sua quase totalidade, de pessoas velhas ou maduras. Depois, que o livro é muito entediante e que há parágrafos  inteiros totalmente dispensáveis. Escrever uma coisa dessas numa resenha é uma coisa muito grave. Porque as pessoas vão ficar desestimuladas a lerem o livro. Nunca se deve fazer isso com um livro, exceto se houver algo muito grave no livro que realmente se deva desestimular sua leitura. E este, não tem uma palavra sequer que não faça sentido no livro.

Grave falha de algumas resenhas lidas

O mais grave que li, porém, foi que era um ineditismo escrever um livro com personagens na sua maioria sendo pessoas idosas. É uma alienação total pois, um dos livros mais comentados da atualidade, ou de algum tempo atrás, escrito por um prêmio Nobel de Literatura (1982), Gabriel Garcia Marquez, Memória de Minhas Putas Tristes, tem seu personagem principal, um idoso de nada menos que 80 anos. Sobre este livro e o filme, fiz postagens no meu blog. Quem desejar, poderá lê-la ou assistir ao filme e ler os comentários que publiquei, nos links a seguir. E outro livro bem atual, de Nicholas Sparks, Diário de uma Paixão, que também explora o drama de uma mulher com Alzheimer e seu grande amor, que a acompanha no hospital, lendo para ela todos os dias partes do diário deles dois, que também foca no drama de pessoas idosas.

Memória de Minhas Putas Tristes (Livro)

Memória de Minhas Putas Tristes (Filme)

O maravilhoso bistrô francês (citação)

Destaque a se fazer

Uma coisa que enriquece muito a leitura deste Bistrô Francês é que a autora é muito detalhista. Certas partes são como se o leitor estivesse vendo a cena, tamanha é a perfeição com que são descritos os detalhes. E há também uma coisa bem marcante: é a defesa que a autora faz para as mulheres e a crítica, mas não agressiva, para o comportamento dos homens em relação a elas. Vou citar um exemplo de uma dessas partes a seguir.

Trechos do livro (transcrição)

Como a vida é hipócrita. Quando jovens, tínhamos que manter as pernas fechadas para não ‘levar fama’. Quando casadas, ficávamos sob suspeita se nos divertíamos muito. E mesmo antes de chegarmos aos quarenta, já éramos consideradas velhas demais. Existe alguma idade certa para as mulheres e para aquilo que elas têm lá embaixo? Não quero criar teias de aranha.(p. 74)

Ou leiam o que a autora escreve para descrever um certo quarto denominado – o “Quarto da Concha“.

 

Era o menor do hotel, mas o mais bonito. Piso de tábuas de barco polidas, tapetes claros e macios,  um baú com pátina diante da cama francesa, um grande espelho redondo em uma parede, um armário rústico em um canto, sob o tablado pontudo. Um biombo delicado separava uma cômoda com espelho, e logo adiante havia um mancebo revestido de seda. (p. 72 e 73)

Ou ainda, o que se menciona sobre Genevieve, uma das personagens centrais do livro.

“Mas Genevieve não era nada disso. Tinha uma sensualidade provocante, vívida, com lábios cor de cereja e olhos escuros que poderiam atravessar um homem até ele ouvir seu coração se partir ao meio.” (p. 180)

Mereceu quatro estrelinhas (das cinco possíveis)

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Bom dia de domingo.
Pela bela resenha um livro emocionante que deve prender o leitor na busca dos caminhos da personagem pelo lugar da pintura no azulejo.
Grato pela partilha e indicação.
Abraço de paz.

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